O artigo explora a representação da trabalhadora doméstica na telenovela brasileira Laços de Família, exibida no ano 2000, pela Rede Globo de Televisão, na faixa das 20h. “Cafezinho, dona Helena?”, foi uma frase recorrente dita pela empregada doméstica Zilda, interpretada pela atriz Thalma de Freitas, durante o enredo. A personagem, uma mulher negra, não tinha um contexto próprio e sua única função era apoiar as histórias dos patrões brancos, como a da protagonista Helena, e servi-los. A forma como o autor construiu a personagem foi criticada por parte do público com a reexibição no Vale a Pena Ver de Novo, em 2021; e ganhou destaque nas redes sociais digitais, como o Instagram, em 2023, após internautas compararem o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) intitulado ‘Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil’ com a narrativa da personagem Zilda. A audiência criticou o fato de a doméstica ter poucas falas; ser visivelmente explorada pela família; não ter horário fixo; além de ficar responsável por todas as atividades da casa, como cozinhar, limpar e fazer compras. O presente trabalho analisa, qualitativamente, dois perfis do Instagram, a Negritudeemletras e a Descolonize.educa, cujos conteúdos abordam a cultura negra e educação racial; ambos publicaram uma postagem com trechos extraídos da telenovela, em que aparece a personagem Zilda, como forma de ilustrar o recorte racial associado ao tema da redação. Percebemos, então, que a crescente utilização das novas tecnologias, aliada ao avanço e a modernização dos meios de comunicação, que estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, favorecem a construção da chamada "sociedade da informação" (Castells, 1999). Um exemplo disso é o ativismo digital, que cada vez mais ocupa o espaço público virtual e utiliza as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para a sua organização e participação política. Para uma melhor compreensão da temática, buscando, conforme Nunes (2018), possíveis construções simbólicas que perpassam a dimensão sociocultural das relações do trabalho doméstico, abordaremos, por meio de uma revisão de literatura, o conceito de ativismo digital (Vasconcelos Filho, 2016; Cavalcanti et.al, 2020), evidenciando como o uso da internet pode envolver práticas de conscientização, apoio, organização e mobilização. Concomitante a esse conceito, traremos os estudos culturais para nortear a pesquisa, discorrendo sobre sistemas simbólicos e culturais de representação na mídia (Kellner, 2001; Hall, 2003). Como resultados parciais, identificamos que a narrativa da telenovela foi contextualizada em um cenário contemporâneo, cujos movimentos sociais digitais levantam discussões sobre representações estereotipadas e suas repercussões na sociedade, servindo como um ponto de partida para reflexões profundas sobre como as representações midiáticas influenciam a percepção coletiva e constroem valores simbólicos, e como o ativismo digital, ao comparar a narrativa da telenovela à proposta de redação do Enem 2023, ilustra de que forma elementos culturais midiáticos, a exemplo da telenovela, com o tempo, são reinterpretados por um olhar crítico, destacando uma interseção entre representação de gênero, raça (Malta & Oliveira, 2020) e estudos culturais.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)