Regime de informação é um conceito originalmente formulado por Bernd Frohman (1995), no intuito de problematizar o caráter instrumental da noção de políticas de informação, então predominante na Ciência da Informação quando se debruçava sobre questões relacionadas ao poder. Para Frohman, inspirado em Foucault e Latour, a noção então dominante de políticas de informação não dava conta da complexidade das relações de poder imbricadas em práticas informacionais. Pouco depois e ao longo de uma década, a também filósofa e cientista da informação Maria Nélida González de Gómez (2012, 2018), também inspirada em Foucault e Latour, iria produzir dois artigos de referência relacionados ao tema, aprofundando-o, complexificando-o e convertendo-o em um conceito teórico de referência nos estudos brasileiros sobre relações de poder no âmbito informacional. Mais recentemente, Arthur Bezerra (2023, 2024) abriu um novo horizonte para o entendimento e a operacionalização científica do conceito regime de informação, ao propor um realinhamento dos elementos que o constituem em suas formas anteriores à luz da crítica da economia política de inspiração marxiana. Nessa perspectiva, as relações de poder e a própria noção de poder tornam-se menos difusas e diluídas no conjunto das práticas informacionais, pois a abordagem concentra-se na tensão entre capital e trabalho como o Übergreifendermoment (momento de importância fundamental em um complexo de interações ou mediações dialéticas) que condiciona e atravessa essas práticas, sem perder de vista suas particularidades e singularidades sociotécnicas, geográficas, epocais, institucionais, culturais, estéticas, semânticas, instrumentais etc. Em resumo, a abordagem de Bezerra carrega o conceito de regime de informação com a problemática da luta de classes. Tendo isso em vista, o objetivo geral deste artigo é apresentar uma breve história do conceito regime de informação, com ênfase na contribuição de Bezerra, para, a partir de então, propor um desdobramento dessa mesma contribuição, introduzindo no debate a problemática implicada na noção gramsciana de hegemonia, que traz consigo as de frações de classe, bloco histórico, estado ampliado, coerção e convencimento, direção e dominação, aparelhos privados de hegemonia, senso comum e bom senso (ou senso crítico) e, por último mas não menos importante, o debate em torno do papel dos intelectuais na organização da cultura. Metodologicamente trata-se de pesquisa qualitativa, teórica, exploratória, do tipo bibliográfico, que se encontra em estágio inicial no que tange ao seu objeto central de investigação, embora em estágio maduro quanto à maior parte do quadro teórico de referência. Além das autorias citadas, o artigo dialoga com comentadores brasileiros e estrangeiros da obra de Gramsci, como Coutinho, Ahmad e Bianchi; com considerações de Mészàros sobre consciência de classe, desfazendo tendo o último desfeito um mal entendido então corrente que opunha a noção de Marx à de Gramsci a respeito do tema; e com Stuart Hall em uma apreciação crítica comparada que o autor jamaicano teceu das noções de poder em Althusser e Foucault
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)