IGREJA CATÓLICA E DEMOCRACIA: Análise comparativa do conteúdo do boletim O Diocesano como ferramenta de comunicação na defesa da democracia no Sul Fluminense

  • Autor
  • Gabriela Misael da Cunha
  • Co-autores
  • Patrícia Maurício Carvalho
  • Resumo
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    O boletim O Diocesano é um veículo de comunicação da Igreja Católica da diocese de Barra do Piraí – Volta Redonda, que abrange 12 municípios do sul do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo desta pesquisa é entender as mudanças na comunicação da Igreja Católica no Sul Fluminense e a possível interferência do capitalismo e do neoliberalismo no posicionamento desta Igreja. Para tanto fizemos o recorte de dois períodos: de 1970 a 1973 e 2020 a 2023. Na primeira fase, de criação do boletim impresso, a Igreja local se adaptava às orientações do Concílio Vaticano II (1962-1965) e da Conferência Episcopal de Medellín (1968), que trouxeram a opção preferencial pelos pobres, e enfrentava diversos conflitos com os militares no poder. O bispo Dom Waldyr Calheiros foi um dos líderes católicos que lutaram contra a ditadura na América Latina. Acolheu perseguidos políticos e enfrentou as forças armadas para defender padres e leigos, ficando conhecido pela defesa das causas dos operários da Companhia Siderúrgica Nacional (situada em Volta Redonda) e dos pobres.
               Na segunda fase, com O Diocesano em formato de revista digital, o cenário no Brasil é de pandemia, atos antidemocráticos pedindo a volta da ditadura e a divulgação de notícias falsas pela extrema-direita. Ao comparar os dois momentos, procuramos avaliar a utilização de O Diocesano na defesa da democracia, liberdade e contra a censura e as notícias falsas. A pesquisa foi feita sobre a base de teóricos da Economia Política da Comunicação e afins, e o percurso metodológico foi misto: foi feita a análise de documentos da Igreja Católica com orientações aos fiéis e relativos à comunicação; análise do conteúdo do boletim nas duas fases, levantamento de dados quantitativos e entrevistas.

    Na primeira fase analisada, constatamos que o boletim abraça a realidade local e traz a luta para dentro da Igreja. Porém, o contexto geral já na década de 80 e principalmente a partir da de 90 é de estabelecimento do neoliberalismo, com incentivo ao individualismo no lugar da luta coletiva, e internamente na Igreja latino-americana os adeptos da Teologia da Libertação perdem terreno para os que a condenam como marxista. Assim, ao se afastar da imagem de Igreja comunista, acaba por desprezar os efeitos de uma democracia neoliberal que faz opção preferencial pelos ricos e atua na manutenção e ampliação das desigualdades. Na segunda fase, em pleno cenário pandêmico, com divulgação de notícias falsas e movimentos pró-golpe pedindo pela volta da ditadura, O Diocesano é retirado de circulação, e quando retoma suas atividades não cita nenhuma vez as expressões “notícias falsas” ou “fake news”. Para não incitar disputas de opinião dentro da Igreja, o boletim mal defende a democracia, não divulgando o posicionamento claro da CNBB em defesa desse regime. O Diocesano se fecha nas pautas eclesiais, vira um divulgador de sua própria estrutura e eventos, e em vez de continuar a ser mantido por fiéis, passa a vender anúncios para se sustentar, inclusive por meio de plataformas digitais.

     

     

     

  • Palavras-chave
  • democracia, Igreja Católica; ditadura militar; neoliberalismo; notícias falsas; comunicação.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT2 - Comunicação popular, alternativa e comunitária
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