A convergência é, segundo Bolaño (1997), um processo histórico de aproximação entre informação, comunicação e cultura em face da indústria cultural. Concretamente, expressa-se na aproximação entre setores da radiodifusão, telecomunicações e informática, provocando a integração de mídias e mudanças nas rotinas de trabalho e formação profissional (Salaverría & Negredo, 2008). Neste artigo, apresentamos a plataformização como nova etapa da convergência e discutimos como afeta práticas de trabalho de jornalistas e o conteúdo produzido por eles na mídia tradicional, a partir da análise do Grupo Cidade de Comunicação, no Ceará. A abordagem metodológica foi inspirada na etnografia e incluiu observação in loco, entrevistas com profissionais e análise de conteúdos produzidos. Para investigar as práticas jornalísticas e seus impactos nos conteúdos, foi destacado um dia específico de cobertura, dia 3 de abril de 2024.
Inicialmente apresentada como uma integração que poderia levar à produção de conteúdos multimídia, como em Jenkins (2009), a convergência levou à dissolução da fronteira entre veículos em grupos de mídia e à pressão para que os jornalistas desenvolvam múltiplas tarefas, assumindo, inclusive, funções além das regulamentadas para a profissão. Essa multifuncionalidade resulta em sobrecarga e falta de especialização. Salaverría & Negredo (2008) descrevem esses profissionais como "polivalentes", desempenhando desde a elaboração de pautas até a edição e publicação de conteúdos em diferentes plataformas. Na verdade, trata-se, conforme Figueiredo (2019), de um processo de subsunção e precarização do trabalho, aprofundado com a dinâmica da plataformização. Isto porque esta viabiliza a diversificação de espaços para circulação de conteúdos, como para redes sociais; novas formas de controle do trabalho a partir de softwares, como o WhatsApp; controle da produção e da recepção de conteúdos a partir de dados, entre outros fatores.
A plataformização do trabalho jornalístico implica mudanças significativas na produção de conteúdos e na dinâmica das redações. No Grupo Cidade, a adaptação às novas demandas de mercado resultou em uma busca constante por eficiência operacional, muitas vezes em detrimento da qualidade jornalística. Confirma, assim, o que Mosco (2009) aponta sobre mudanças serem sintomáticas de uma lógica que prioriza a rentabilidade sobre a profundidade e integridade do jornalismo. Notou-se uma sobrecarga do jornalista, que passa a atuar em diferentes veículos, e o uso frequente do WhatsApp para a organização do trabalho. A observação convergiu com o que Ureta (2016) afirma: a digitalização e a distribuição multiplataforma não garantem uma convergência real, que requer práticas cooperativas entre redações.
O estudo de um dia específico de cobertura jornalística do Grupo Cidade revelou a predominância de práticas de "shovelware", onde conteúdos são simplesmente transferidos de uma plataforma para outra sem adaptação significativa, subutilizando as potencialidades de cada meio e concentração de demandas, ao passo que reaproveita o trabalho já feito por um mesmo profissional. Também mostrou a subordinação da pauta à obtenção da audiência, agora acompanhada a partir de dados que são constantemente produzidos e apresentados. Espera-se que a pesquisa contribua para mostrar como a pressão por eficiência e adaptabilidade afeta a qualidade jornalística, resultando em uma análise crítica sobre as transformações em curso.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)