Estudos em Economia Política da Comunicação e da Cultura (EPC) mostram o quanto a comunicação é fundamental na disputa pelo poder no capitalismo. No contexto atual, quando empresas mundiais de plataformas digitais demarcam um momento particular chamado, entre outros termos, de capitalismo de plataforma (Srnicek, 2017), acirram-se questões como concorrência por visibilidade e hiper fragmentação da mídia. Veem-se infladas as estratégias de comunicação, com destaque para propaganda, promoção e marketing, muitas vezes usando ferramentas do jornalismo, e sendo utilizadas abundantemente por atores do mundo político interessados em atenção e poder.
Este estudo observa como agentes políticos da periferia do capital têm seguido uma cartilha neoliberal e usado um aparato de indústria cultural em busca de projeção. O objetivo é discutir relações de poder e uso da comunicação em busca de integração ao capital e promoção de adesão ideológica a este. Para tanto, observa estratégias de comunicação do Governo do Estado do Piauí, tendo como corpus a revista Exame (2024), em edição especial, com o título “Do Piauí para o mundo”.
O referencial analítico se baseia em conceitos e autores da EPC brasileira. Bolaño (2000) observa que, no contexto do capitalismo monopolista, a Indústria Cultural cumpre três funções: propaganda, publicidade e programa. A função propaganda é ideológica, a função publicidade diz respeito ao consumo no mercado e a função programa está vinculada à recepção. Em conjunto, essas funções atuam na coesão de interesses e constituição de um modo de vida e cultura capitalista, contribuindo para ampliar a colonização do mundo da vida por parte do Estado e do mercado (Bolaño et al., 2022).
O Governo do Piauí investe ostensivamente em comunicação nos moldes indústria cultural, com suas funções propaganda, publicidade e programa. Fala-se muito em progresso, desenvolvimento, tecnologia, transformação. O governo se anuncia como “o mais digital” do país e divulga acordos com empresas como Google, tendo criado uma Secretaria de Inteligência Artificial, com status de secretaria de estado e defendendo uma pretensa autonomia nessa área.
Celso Furtado (1974, 1978) lembra que decisões com cadeias hierarquizadas de comando operam em função de valores definidos por grupos dominantes. E alerta que, em contextos periféricos, a dependência cultural-tecnológica pode conduzir a uma modernização enquanto cópia malfeita, levando ao acúmulo de atrasos e deformação de estruturas sociais.
A Exame, que, ao invés de jornalismo econômico, hoje prefere se definir como “jornalismo de negócios” (Godoy, 2023), é tomada como base para investigações mais amplas. A edição especial, em português e inglês, além de se desdobrar em variadas estratégias de promoção, é reveladora do uso da comunicação a serviço da ideologia capitalista, como nos títulos exagerados (“Um celeiro de inovação”), na referência constante ao exterior do país como ideal, apontando uma neocolonização (“Um reino unido de oportunidades”), na presença majoritária de personagens masculinos e brancos, ausência de editoria de cultura, e concentração em economia, tecnologias, agronegócio. Ao analisar a edição da Exame, o estudo discute relações entre capitalismo, comunicação, reestruturação de mercados, papel do Estado e englobamento de mercados periféricos por estruturas capitalistas centrais.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)