Baseada na revisão bibliográfica de estudos recentes sobre comunicação em geral e Economia Política da Comunicação (EPC), esta pesquisa investiga a subsunção do trabalho na comunicação, a automação e suas particularidades históricas no contexto do capitalismo atual. Reconhece-se que o avanço do sistema impõe condições de trabalho cada vez mais precárias, cuja compreensão enquanto processo sócio-histórico oferece entendimentos profundos sobre a vida e o trabalho no setor. O estudo examina como o processo de subsunção do trabalho acontece na comunicação contemporânea. Mais especificamente, quais marcos tecnológicos reorganizam o trabalho na área, e como eles se manifestam.
Os desenvolvimentos tecnológicos pós-Segunda Guerra Mundial remodelaram o capital, introduzindo Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) que culminaram nas plataformas digitais. Segundo Van Dijck (2022), essas plataformas formam ecossistemas informacionais hierárquicos e interdependentes, constituindo-se em espaços públicos digitais mediados pelo capital e guiados por interesses comerciais.
As plataformas desempenham um papel infraestrutural crucial ao capital contemporâneo, organizando diversos aspectos da vida urbana, como transporte, comunicação e varejo. Van Dijck também descreve uma divisão metafórica entre “raízes”, “tronco” e “ramos”, onde as troncais “constituem o núcleo do poder das plataformas ao mediarem infraestruturas, usuários e setores sociais” (VAN DIJCK, 2022, p. 28).
Parte da criação de valor no setor surge do trabalho com dados, convertendo conhecimento tácito em informação manipulável (BOLAÑO, 2002, p. 69). Os comunicadores atuam como intermediários culturais, transformando audiência em mercadoria cultural que é quantificada e qualificada para anunciantes (BOLAÑO, 2000, p. 225). Esta lógica da mercadoria na comunicação continua se aplicando no mercado plataformizado.
As tecnologias que sustentam as plataformas não se desenvolvem de forma neutra; historicamente, elas em geral aumentam o controle sobre o trabalho por meio da automação, submetendo-o às condições impostas pela maquinaria e reduzindo a qualificação do trabalhador (SANTOS, 1983, p. 57). Isso reflete a centralidade da tecnologia para o capital, com empresas buscando monopolizar seu desenvolvimento, influenciando a ciência e investimentos estatais.
Desta forma, o desenvolvimento das TICs e a economia de plataformas são acompanhados de tecnologias capazes de controlar o trabalho na comunicação. Segundo Bolaño (2002), a apropriação do trabalho intelectual pelo capital implica a usurpação dos conhecimentos da classe artesã, convertida em proletária, e a instrumentalização desse saber no exercício do poder sobre o processo de trabalho. O fenômeno cristaliza estes saberes em uma tecnologia que exerce determinada função anteriormente do trabalhador. Portanto, o trabalho que antes era realizado por um conjunto de profissionais (atendimento, criação, planejamento de mídia etc.) e empresas (agências de publicidade, veículos de comunicação, gráficas, estúdios etc.) agora é reduzido a poucos trabalhadores ou mesmo aos próprios anunciantes. É neste cenário que surgem as agências de comunicação digital, em geral constituídas por uma pequena equipe responsável por análise de métricas e produção de conteúdo publicitário para mídias sociais.
As agências podem constituir em si uma adequação às determinações da forma produtiva das plataformas. Em muitos casos, agindo como plataformas ramais a serviço de outras plataformas e precarizando o trabalho no processo de maximização da exploração.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)