O estabelecimento de uma sólida política audiovisual no Brasil a partir da criação da Ancine, em 2001, articulada a mecanismos estabelecidos ao longo das duas primeiras décadas dos anos 2000, produziu resultados expressivos em todo o país (IKEDA, 2021; MORAIS, 2020). A Bahia, com longa trajetória no campo (MELO, 2016; SETARO, 2012), foi um dos destaques fora do eixo Rio-São Paulo, especialmente no que se refere ao desenvolvimento da produção independente. Profissionalização das empresas, fortalecimento na criação de obras em linguagens pioneiras como cinema de ficção e documentário, formação de um nicho dedicado ao conteúdo seriado e à animação, reconhecimento através de premiação de artistas e obras em importantes festivas nacionais e internacionais, maior inserção na indústria, através do aumento no fluxo de coproduções e licenciamentos de produções baianas, foram alguns resultados gerados.
O início da Covid-19, em 2020, associado a um período de desinvestimento do setor cultural no plano federal, provocou a retração de um movimento ascendente do audiovisual independente baiano, tal como ocorreu em todo o país. A retomada gradativa das atividades após a chegada da vacina, em 2021, se deu em meio a novo cenário. A acelerada consolidação do Vídeo sob demanda (Video on demand- VoD), com consequente ampliação das possibilidades de comercialização de conteúdos independentes é um primeiro aspecto observado, um fenômeno com impacto na indústria audiovisual em todo o mundo (NOAM, 2021).
Do ponto de vista das relações de produção, a questão da propriedade intelectual das obras e dos modelos de negócios estabelecidos entre produtoras e plataformas emerge como uma questão importante, sobretudo diante da crescente profissionalização da produção independente baiano, com consequente aumento de sua capacidade produtiva. Segundo, do ponto de vista estrutural, a inserção da entidade Film Comission no ecossistema estadual se apresenta com uma perspectiva de reconfiguração do setor através de uma maior participação do Estado nas práticas que culminam no desenvolvimento de obras audiovisuais e sua difusão ao público.
No caso da Bahia, tem-se a Bahia Film Comission, criada oficialmente em 2010, mas com baixa expressão; e a Salvador Film Comission, criada em 2024 como parte do projeto de internacionalização do audiovisual na capital baiana e da própria cidade como cenário para obras brasileiras e estrangeiras. Tudo isso articulado com um amplo projeto de promoção da cidade como destino turístico.
Este texto tem como objetivo refletir sobre a inserção desses novos elementos na dinâmica de relacionamento entre agentes no setor audiovisual independente baiano contemporâneo e seu potencial de reconfiguração da cena local, articulado com questões que estão na base na trajetória da produção independente audiovisual. Destacam-se: a autonomia criativa das produtoras no relacionamento com o setor exibidor/distribuidor (CANESSO, 2020); as barreiras à entrada (BRITTOS, 2004) de novas empresas produtoras na indústria audiovisual; e, potencializado pela ampliação do mercado de VoD, a discussão sobre os direitos patrimoniais das obras (ANCINE, 2017). O estudo se dá com base em análise documental e em informações disponibilizadas nos sites e redes sociais de produtoras independentes baianas, do governo do Estado e da prefeitura de Salvador.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)