SANTA MARTA NA MODA

  • Autor
  • ALEXANDRA SANTO ANASTACIO
  • Co-autores
  • Patrícia Maurício
  • Resumo
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    RESUMO

    Esta pesquisa aborda a comunicação e moda na periferia do Rio de Janeiro, e centra-se na experiência prática de costureiras residentes na favela Santa Marta. Recuperamos os achados apresentados na dissertação de mestrado de Alexandra Santo Anastácio (2013), que traz uma pesquisa-ação participante com o coletivo de costureiras Costurando Ideais entre 2010 e 2012, e, na análise atual, os estudamossob o ponto de vista da Economia Política da Comunicação, a partir do livro 1 d’O Capital (MARX, 2016), de Bolaño (2002) e outros teóricos ligados ou com visão crítica afim à EPC.

    O perfil socioeconômico das costureiras era de mulheres não brancas, entre 40-60 anos, residentes na favela, sem educação formal, mães, em sua maioria solteiras, em média nove participantes desde a fundação, em 2002, na pastoral da Igreja Católica, até o término, em 2013. Neste período, a violência fez com que a igreja fechasse as portas, e o grupo foi para o prédio de uma igreja evangélica na favela pagando aluguel por conta própria Em seguida, foi apoiado por uma ONG italiana e o Ibase no projeto de UPP social dos governos federal e estadual, com parcerias eventuais com marcas famosas de roupas. Após dois anos de entrevistas com as costureiras, observação do processo de produção e da participação no grupo, os dados coletados revelaram que as marcas basicamente usaram o coletivo para costurar peças já idealizadas e cortadas por elas (facção), utilizando o projeto para marketing próprio, em matérias de jornais e revistas sobre sustentabilidade e responsabilidade social. Mais que isso, o projeto organizou desfiles e catálogo das roupas e, ao final, deu máquinas de costura industriais para o grupo, mas não lhes ensinou a usá-las, nem deu o conhecimento para gerir o negócio coletivo, porque o curso de economia solidária que foi ministrado exigia um nível de conhecimento prévio que as costureiras não tinham. Portanto, ao sair o apoio, o grupo não conseguiu se sustentar. Os gestores do projeto trouxeram ideias sobre o que seria bom para uma comunidade, mas não estudaram a realidade concreta daquele coletivo, no contexto sócio-histórico em que estava inserido, para depois pensar as políticas sociais. Não perceberam, também, que integrantes do grupo tinham uma visão mais da mercadoria e do lucro do que do coletivo. Houve uma visão idealista que norteou o projeto, mas não se estudou a materialidade antes da sua formulação.

    A comunidade numa sociedade de indivíduos reaparece mediada pelo mercado (Bauman, 2007, p. 37). O suposto produto artesanal e comunitário das costureiras do Santa Marta é uma ficção que serviu principalmente para ser estratégia de marketing de marcas, num momento em que o capitalismo e sua mercadorização da vida levam ao individualismo, e fazem com que muitas pessoas sonhem com o retorno à rede de vínculos da vida em comunidade.

     

     

  • Palavras-chave
  • Comunicação, moda, economia solidária, mercadorização.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT 4 - Políticas culturais e economia política da cultura
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