RESUMO
Esta pesquisa aborda a comunicação e moda na periferia do Rio de Janeiro, e centra-se na experiência prática de costureiras residentes na favela Santa Marta. Recuperamos os achados apresentados na dissertação de mestrado de Alexandra Santo Anastácio (2013), que traz uma pesquisa-ação participante com o coletivo de costureiras Costurando Ideais entre 2010 e 2012, e, na análise atual, os estudamossob o ponto de vista da Economia Política da Comunicação, a partir do livro 1 d’O Capital (MARX, 2016), de Bolaño (2002) e outros teóricos ligados ou com visão crítica afim à EPC.
O perfil socioeconômico das costureiras era de mulheres não brancas, entre 40-60 anos, residentes na favela, sem educação formal, mães, em sua maioria solteiras, em média nove participantes desde a fundação, em 2002, na pastoral da Igreja Católica, até o término, em 2013. Neste período, a violência fez com que a igreja fechasse as portas, e o grupo foi para o prédio de uma igreja evangélica na favela pagando aluguel por conta própria Em seguida, foi apoiado por uma ONG italiana e o Ibase no projeto de UPP social dos governos federal e estadual, com parcerias eventuais com marcas famosas de roupas. Após dois anos de entrevistas com as costureiras, observação do processo de produção e da participação no grupo, os dados coletados revelaram que as marcas basicamente usaram o coletivo para costurar peças já idealizadas e cortadas por elas (facção), utilizando o projeto para marketing próprio, em matérias de jornais e revistas sobre sustentabilidade e responsabilidade social. Mais que isso, o projeto organizou desfiles e catálogo das roupas e, ao final, deu máquinas de costura industriais para o grupo, mas não lhes ensinou a usá-las, nem deu o conhecimento para gerir o negócio coletivo, porque o curso de economia solidária que foi ministrado exigia um nível de conhecimento prévio que as costureiras não tinham. Portanto, ao sair o apoio, o grupo não conseguiu se sustentar. Os gestores do projeto trouxeram ideias sobre o que seria bom para uma comunidade, mas não estudaram a realidade concreta daquele coletivo, no contexto sócio-histórico em que estava inserido, para depois pensar as políticas sociais. Não perceberam, também, que integrantes do grupo tinham uma visão mais da mercadoria e do lucro do que do coletivo. Houve uma visão idealista que norteou o projeto, mas não se estudou a materialidade antes da sua formulação.
A comunidade numa sociedade de indivíduos reaparece mediada pelo mercado (Bauman, 2007, p. 37). O suposto produto artesanal e comunitário das costureiras do Santa Marta é uma ficção que serviu principalmente para ser estratégia de marketing de marcas, num momento em que o capitalismo e sua mercadorização da vida levam ao individualismo, e fazem com que muitas pessoas sonhem com o retorno à rede de vínculos da vida em comunidade.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)