A NOVA GILEAD: UMA ANÁLISE DE ILUSTRAÇÕES QUE COMPARAM O BRASIL COM A DISTOPIA DE “O CONTO DA AIA” A PARTIR DO DEBATE CONTRA O PL ANTIABORTO

  • Autor
  • Kamilla Abely Dias Gomes
  • Co-autores
  • Renata Barreto Malta
  • Resumo
  • A distopia “O Conto da Aia”, escrita pela canadense Margaret Atwood em 1985 e que ganhou adaptação para a TV em 2017, tornou-se símbolo global de protestos feministas em um diálogo da ficção científica com um cenário de avanço das pautas da extrema direita e do fundamentalismo religioso que cerceiam os direitos das mulheres. Ao redor do mundo, a figura das aias (escravas sexuais na obra), com seus trajes vermelhos, foi apropriada pelos movimentos contra a violência de gênero e manifestações contra a descriminalização do aborto.

    No Brasil, a analogia chegou não só pelas ruas, mas também pelas mídias sociais através de imagens que remetem aos elementos da série. A recente comparação com a realidade brasileira surge em um contexto de endurecimento dos direitos reprodutivos a partir da aprovação do caráter de urgência do Projeto de Lei 1904/24 que pretende alterar o código penal brasileiro e equiparar o aborto legal após 22 semanas ao crime de homicídio simples - mesmo em casos de estupro de mulheres, meninas e pessoas que gestam. O projeto duplica para 20 anos a pena máxima para quem realizar o procedimento, tempo de prisão equivalente para casos de assassinato no país. 

    Na tentativa, portanto, de documentar e analisar a estratégia discursiva do movimento feminista e pró-escolha contra o PL antiaborto, o presente trabalho se propõe a investigar quais os sentidos mobilizados na comparação entre a teocracia de Gilead e o Brasil. Em meio a tantas publicações que continham a hashtag “#pl1904”, foram selecionadas para o nosso recorte ilustrações produzidas por três artistas brasileiros (Paula Villar, Nando Malta e Cristiano Siqueira) que tiveram alcance na plataforma Instagram a partir de curtidas, comentários e compartilhamentos.

    Como referencial teórico-metodológico, será utilizada a Análise do Discurso franco-brasileira aliada a outros dispositivos analíticos. Com um corpus composto sobretudo de matéria não-verbal, parte-se do entendimento do texto como discurso e, portanto, como peça de linguagem de um processo discursivo mais abrangente e amplo, considerando toda a historicidade envolvida (ORLANDI, 1995). 

    Nas materialidades analisadas, foi possível encontrar discursos apoiados na ideologia disseminada pela esquerda, atravessando outros discursos e formações discursivas como a feminista e ativista em contraponto com as formações antiaborto. As ilustrações reforçam os sentidos da PL como uma ameaça, sobretudo às crianças, e um reforço à cultura do estupro presente no país. Também foi possível identificar a construção discursiva por meio da visão artística de cada ilustrador(a), em suas posições-sujeito: nesse ponto, Paula Villar se destaca pela quantidade de publicações, o posicionamento político claro e o local de onde fala, atravessada pelas opressões de gênero. 

    O peso das ilustrações de Villar e Nando Motta, ao mostrar a relação menina-aia, mobilizam os sentidos de institucionalização do estupro (aia) e de vulnerabilidade (menina) ao retratar a figura de crianças brasileiras enfrentando violências da família (abuso sexual) e do Estado (empecilhos para exercer o direito ao aborto legal) - instituições sociais que as deveriam proteger. A discussão sobre as relações entre o estado e o direito das mulheres ganha centralidade neste trabalho.

  • Palavras-chave
  • PL antiaborto, Brasil, O Conto da Aia, Ilustrações, Análise do Discurso.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT8 - Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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