Este trabalho visa oferecer uma perspectiva feminista sobre o conceito de forma-comunicação, analisando os fundamentos sociais do patriarcado na mídia. Para isso, será feita uma aproximação entre as discussões conceituais da Economia Política da Comunicação de César Bolaño (2000) e as teorias feministas de Roswitha Scholz (1996, 2013), com seu conceito de "dissociação-valor", e de Silvia Federici (2021, 2023), que explora a divisão sexual do trabalho e a interferência da acumulação primitiva nesse sentido. A questão central é provocar uma reflexão sobre como as categorias de opressão patriarcal não apenas influenciam, mas também constituem um aspecto fundamental do capitalismo, manifestando-se, portanto, na forma-comunicação.
Assim sendo, este trabalho apresentará os fundamentos que estruturam a assimetria entre os sexos na comunicação como uma forma social, expandindo a análise além do estudo empírico e desenvolvendo uma discussão teórica sobre o problema. Pretendemos demonstrar que a assimetria entre os sexos vai além da mera questão da representação. Em vez disso, a desigualdade e a discriminação associadas a essa representação são resultado de uma estrutura social patriarcal e sexista, da qual a forma social da comunicação é uma manifestação.
A pesquisa desenvolvida é caracterizada, então, como uma investigação básica, abordando o problema de maneira qualitativa e acessando sua documentação de forma indireta, concentrando-se em obras que exploram a relação entre patriarcado, capitalismo e comunicação. Textos de Bolaño, Bastos e Souza (2021) serão citados no decorrer do trabalho, a fim de ajudar a elucidar nossos pensamentos. Apresentamos a seguir, como resultados preliminares, alguns pontos essenciais nas teorias de cada autor.
Federici argumenta que a crítica marxista à acumulação primitiva é essencial para uma política feminista, pois o capitalismo perpetua a subordinação das mulheres e a divisão sexual do trabalho. A exploração do trabalho reprodutivo não remunerado revela a persistência das desigualdades de gênero e raça. Ela critica a visão de que salário e divisão do trabalho são meramente campos de confronto entre capital e trabalho, destacando que são também mecanismos de poder e hierarquia.
César Bolaño, por sua vez, utiliza o conceito de acumulação primitiva para examinar a informação em três contextos: a troca entre indivíduos no mercado, a relação hierárquica entre capitalista e trabalhador, e a colaboração horizontal entre trabalhadores. Bolaño descreve a apropriação do conhecimento dos trabalhadores pelo capitalista como “acumulação primitiva de conhecimento”, essencial para o desenvolvimento tecnológico capitalista.
Já Roswitha Scholz critica a visão sexualmente neutra da crítica do valor e desenvolve a teoria da dissociação-valor, que considera a diferenciação de gênero como fundamental para a estrutura capitalista. Ela argumenta que atividades essenciais para a produção e reprodução da força de trabalho, embora não vistas como trabalho abstrato, são a base do valor.
Sendo assim, a forma-comunicação deve ser entendida como diretamente influenciada pela desigualdade sexual e pela dissociação-valor, em vez de ser uma expressão neutra da autovalorização do valor.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)