OS ESTUDOS DE GÊNERO E RAÇA: POSSIBILIDADES DENTRO DA CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA DA COMUNICAÇÃO

  • Autor
  • Rafaela Martins de Souza
  • Co-autores
  • Tamiris da Anunciação Santos
  • Resumo
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    Com o avanço da ideologia neoliberal e seu espraiamento acadêmico em teorias que colocam o indivíduo atomizado no centro das discussões - caso das teorias pós-modernas identitárias - uma série de discussões sobre os temas de gênero e raça são utilizadas com argumentos que colocam tais temáticas em uma suposta oposição às teorias fundamentadas na crítica da economia política marxista e no pensamento marxista ortodoxo. O presente artigo tem por objetivo, desmantelar essa falsa oposição mostrando como a teoria do valor, desvendada por Marx, demonstra o fundamento do capitalismo patriarcal e racista.

    Utilizaremos as contribuições da Economia Política da Comunicação e das Teorias Marxistas para esclarecer que dentro do rigor científico da pesquisa materialista histórica dialética é possível encontrar a perspectiva crítica radical capaz de situar o estado das coisas e vislumbrar suas possíveis superações. Vamos também demonstrar, por meio da metodologia da derivação de Bolaño (2000), a forma como a mediação da Indústria Cultural opera os aspectos de prejuízo de gênero e raça nos produtos midiáticos desempenhando papel central nesse prejuízo.

    Focaremos nossa atenção em desmantelar as ideias, por vezes ingênuas, por outras oportunistas, de que somente as teorias identitárias favorecem as discussões de gênero e raça. Para tanto apresentaremos resumidamente a linha seguida por essas teorias e os argumentos da teoria do valor (Marx, 2016a, 2016b), pautados no materialismo histórico-dialético, que as contrapõem. Em seguida, explicaremos os conceitos do valor-dissociado (Scholz, 1996, 2000, 2013), de exterioridade (Dussel, 1990) e da representação capitalizada (Santos, 2021) como processos que fundamentam o capitalismo patriarcal racista.

    A teoria do valor desvenda a maneira com que a exploração da força de trabalho gera valor a partir do trabalho. Para que esse processo ocorra, uma série de atividades que se encontram fora do universo do trabalho produtivo são executadas justamente para a manutenção dessa força de trabalho. Dussel (1990) explica essa exterioridade como o território de onde provém o trabalho vivo, o “ser-do-capital”, que é transformado em força de trabalho na medida em que passa a ser incorporado neste último. Scholz (1996, 2000, 2013) compreende as atividades executadas fora do universo produtivo como tarefas dissociadas do valor que se apresentam com diferença de gênero. Já Bastos & Souza (2019) entendem esses processos como uma “constituição sexualmente assimétrica e historicamente específica do valor” (Bastos; Souza, 2019, p. 7).

    No que se refere ao processo histórico-material, percebemos uma série de modificações que o capitalismo impõe nos modos de vida (Bolaño et al. 2022) cujo espraiamento é em grande parte possibilitado a partir da mídia patriarcal e racista com códigos de comportamento que reiteram o padrão de gênero binário e heterossexual e o racismo. Esses códigos tanto são executados nas práticas de trabalho de mídia (Veloso, 2017), quanto nos conteúdos midiáticos (Bolaño et al. 2022).

    Isso significa dizer que as representações dentro da Indústria Cultural são capitalizadas mantendo a estrutura racista e sexista intacta, entendemos que o caráter cíclico do capitalismo está reproduzido nas diferentes formas sociais da comunicação incorporadas conforme a necessidade da manutenção do capital.

     

  • Palavras-chave
  • economia política da comunicação, teoria marxista, teoria feminista, gênero, raça
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT8 - Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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