Neste resumo, apresentamos estratégias teóricas e metodológicas utilizadas para desenvolver pesquisas em Economia Política da Comunicação (EPC) relacionadas a grupos quilombolas e agricultores. A premissa ético-epistemológica desta abordagem está relacionada à perspectiva de Vincent Mosco (1996) sobre o sentido da práxis da pesquisa em EPC e o incentivo do autor para que olhemos para dentro do nosso campo. A partir deste movimento, articulamos referenciais teórico-metodológicos para compreender o trabalho de comunicação que agricultores e quilombolas desempenham em seus processos de luta e resistência econômica, política e cultural. Deste modo, articulamos duas reflexões: a noção de cultura e desenvolvimento proposta por Celso Furtado e a perspectiva da linguagem e do trabalho de comunicação, presente em estudos da linguagem na perspectiva do materialismo histórico e dialético. A produção cultural e comunicacional de quilombolas e agricultores , bem como os espaços de atuação na sociedade por eles conquistados são analisadas a partir do significado de resistência dessas práticas simbólicas, apontadas em sua capacidade criativa de induzir visibilidade e resistência social, ao mesmo tempo em que cria novos modelos de produção e desenvolvimento. Suas expressividades coletivas (cantos, danças, espaços culturais, espaços produtivos) conformam um “desenvolvimento fundado no fortalecimento das matrizes históricas de nossa cultura” (FURTADO, 2012, p. 51). Como “via de acesso a formas sociais mais aptas para estimular a criatividade humana e para responder às aspirações de uma coletividade” (FURTADO, 1984, p. 70), entendemos que a criatividade cultural das comunidades tradicionais é capaz de oferecer alternativas às produções simbólicas dominantes, atuando como “impulso criador de novos valores culturais” (FURTADO, 2008, p. 112). Argumentamos que isto não é feito de modo casuístico por estes grupos. Em nossas pesquisas, identificamos que se trata de estratégias que visam disputar a hegemonia produtiva, cultural e política dos modos de vida e produção da sociedade. Ao abordar a linguagem na perspectiva do materialismo histórico e dialético compreendemos que, com a complexificação da luta política, a comunicação e a cultura assumem centralidade nos conflitos. Formas e conteúdos de expressão são elaborados por um trabalho comunicacional, cultural e semiótico, estando relacionado ao processo de formação da consciência social e à mediação da objetividade/subjetividade que permite a criação de novos modos de organização produtiva. O trabalho de comunicação está relacionado à construção de significados sociais e percepções imbricadas na disputa pela hegemonia político-econômica de um grupo particular. Deste modo, o ato comunicativo no contexto da luta política não é entendido como uma atividade espontânea, mas sim como um trabalho (BAKHTIN, 2006; GRAMSCI, 2012; MARX E ENGELS, 2007; ROSSI-LANDI, 1985; DANTAS, 2016, BOLAÑO, 2015), O trabalho de comunicação realizado por agricultores e quilombolas utiliza técnicas, tecnologias e artefatos contextualizados com seus repertórios e orientados a estabelecer padrões de 1 produção e cultura que apontam não apenas novas ideias, mas sobretudo, novos processos produtivos, antagônicos à racionalidade instrumental e propulsor de descontinuidades nas estruturas de produção e cultura dominantes (FURTADO, 2008)
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)