A APROPRIAÇÃO TECNOMEDIÁTICA COM PERSPECTIVA DECOLONIAL

  • Autor
  • Graciela Natansohn
  • Co-autores
  • Susana Morales
  • Resumo
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    Este artigo discute conceitualmente a noção de apropriação tecnomediática (MORALES, 2008) no campo dos estudos da comunicação digital, de um ponto de vista feminista decolonial. Entendemos que a categoria apropriação aglutina um conjunto de atividades que, no contexto latino-americano, adquire um caráter coletivo e de resistência que se ativa diante de formas alheias de cultura, bens de consumo e estruturas organizacionais, e implica processos subjetivos de compreensão que partem de outros horizontes hermenêuticos (NEÜMAN, 2009). A importância do conceito se reflete também na criação da Rede de Pesquisadores sobre Apropriação de Tecnologias Digitais (RIAT, 2024) que, desde 2012, vem sistematizando experiências e seus desdobramentos teóricos e epistemológicos.

    A apropriação sinaliza resistência e empoderamento, como proposto por Michel de Certeau (1974), Canclini (1995), Martín-Barbero (1987), entre outros, formas de estar no mundo e ligar-se ao exterior (MARX, 1969; VIGOTSKY, 1985; LEONTIEV, 1983), mas também desapropriação-apropriação capitalista, na perspectiva de Marx (1969) e a adoção de traços culturais de culturas étnicas subordinadas ou minorizadas, isto é, apropriação ligada a práticas culturais supremacistas brancas, denominada de apropriação cultural, muito debatida no Brasil no seio dos movimentos negros (RIBEIRO, 2017).

    Aqui, vamos relacionar a apropriação com um aspecto da comunicação digital contemporânea: o extrativismo e colonialismo de dados (COULDRY & MEJIAS, 2019). Essa forma renovada de apropriação tem pelo menos três funções: a) tornar os tempos e processos de produção mais velozes, b) capturar dados da vida e das ações cotidianas para aperfeiçoar a relação oferta/consumo e c) exercer a vigilância massiva, a predictibilidade das condutas e a legitimação ideológica que essa lógica colonial precisa. A perspectiva do colonialismo de dados se imbrica com o feminismo decolonial quando um olhar generizado e racializado das relações coloniais da sociedade datificada consegue dar conta da dinâmica entre as hierarquias de gênero/raça/classe (as mais evidentes, mas sem esquecer outras, como território, religião, etc.) e as apropriações de dados realizadas em e com as tecnologias, observando os efeitos dessas. Propomos, após a revisão teórica sobre a apropriação tecnomediática, mapear e sinalizar algumas iniciativas decolonias que outorgam legitimidade epistêmica a outras formas de imaginar internet, tal como o hackerismo transfeminista (NATANSOHN & REIS, 2020), o ativismo feminista antivigilância e antirracista (MORALES & NATANSOHN, 2024) e o feminismo de dados (D'IGNAZIO & KLEIN, 2020). Enfocamos neste aspecto (a dataficação e suas resistências) tendo ciência que uma perspectiva decolonial remete a uma diversidade ampla de temas, todos eles relacionados. Como sustenta Ricaurte Quijano (2023, p.14, tradução livre do espanhol) “entre os repertórios de luta, o principal desafio é abraçar a indissociabilidade da defesa dos corpos-territórios e a disputa pelas infraestruturas tecnológicas e de produção de conhecimento”, na medida em que fazem parte da mesma disputa no coração do capitalismo nesta fase: a apropriação das tecnologias digitais.

     

  • Palavras-chave
  • apropriação tecnomediática, feminismo decolonial, colonialismo de dados
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT8 - Estudos Críticos sobre identidade, gênero e raça
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