A partir do fenômeno da plataformização, de acordo com as propostas de Poell, Nieborg e Van Djick (2020) e Nieborg (2019,) e seus efeitos sobre o campo do jornalismo, analisa-se a trajetória da relação entre plataformas e veículos de comunicação, divididos em dois momentos importantes. O primeiro permeado por uma relação positiva e marcada pela construção da presença digital por parte dos veículos e por meio de produtos de plataformas. Desta forma, as lógicas das plataformas passam a influenciar as decisões editoriais, desde o gatekeeping até a edição, distribuição e análise dos resultados. No segundo momento, estabelece-se uma relação conflituosa, também chamada de “pós-plataformas” (Rashidian et al., 2019), em que veículos de comunicação buscam maior independência e estão mais cautelosos ao estabelecer parcerias com as empresas de plataformas digitais.
Neste novo período, a gestão de produto no jornalismo surge como peça-chave para a condução de uma estratégia de contrabalanceamento da dependência das plataformas, em um movimento de “desplataformização”, em que os veículos estão mais focados na criação de produtos proprietários. Cindy Royal (2017, 2024) apresenta a gestão de produto como um “árbitro institucional”, que alinha as prioridades de diferentes grupos e atua como ponte entre as funções editoriais, administrativas e tecnológicas, servindo também como um locus de mudança de paradigma para o jornalismo digital contemporâneo.
Se o paradigma anterior, chamado “advertiser first” (Bakke e Barland, 2022), que regia o modelo de negócio do jornalismo era pautado pelas necessidades dos anunciantes, tendo como principal fonte de receita a publicidade, neste novo paradigma, o foco está nas necessidades dos leitores e em novos modelos de negócio pautadas na receita provinda da audiência, chamado de “reader first” (Bakke e Barland, 2022). Tendo em vista o momento de crise que o jornalismo passa, repleto de incertezas e transformações constantes do entorno digital, a gestão de produto e a estratégia de contrabalanceamento e “desplataformização” se apresentam como possíveis respostas para navegar este contexto.
Trata-se, portanto, de um estudo exploratório inicial, baseado numa metodologia qualitativa de levantamento e revisão da literatura para responder às questões: qual o contexto da relação entre plataformas digitais e o jornalismo contemporâneo? Como as plataformas impactam os processos de produção noticiosa, modelo de negócio e tomada de decisões nos veículos de comunicação? E como a gestão de produto surge e se estabelece como proposta de adaptação do jornalismo para o ambiente online visando a construção de um futuro economicamente sustentável?
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)