Mediação da informação e plataformização da vida em sociedade

  • Autor
  • Arthur Coelho Bezerra
  • Resumo
  •  

    Esta comunicação tem como objetivo abordar o fenômeno da plataformização de diferentes dimensões da vida social, a partir de uma perspectiva crítica que considera o caráter de dependência de indivíduos, organizações e Estados em face do poderio tecnológico e industrial de um pequeno grupo dominante de corporações capitalistas, conhecidas pela alcunha de big tech.

    As plataformas digitais podem ser definidas como infraestruturas tecnológicas baseadas em software que operam a mediação da informação e comunicação entre indivíduos, permitindo a interação entre usuários, clientes, consumidores, eleitores, anunciantes, vendedores, prestadores de serviço, produtores e fornecedores (Bezerra, 2024). Tendo surgido no âmbito do desenvolvimento da tecnologia digital e se popularizado com o espraiamento da world wide web, as plataformas digitais se tornaram, no primeiro quarto do século XX, o principal ambiente onde ocorrem as atividades econômicas, sociais, culturais e políticas de boa parte da população mundial.

    Com a abertura total da internet para o comércio em meados da década de 1990, as plataformas se configuram como o principal locus do insurgente mercado digital, fornecendo a infraestrutura básica para mediar diferentes grupos e fazendo o monitoramento de dados tanto da comunicação pessoal quanto do comércio digital (Srnicek, 2016). No imenso shopping center forjado nas redes digitais, a arquitetura da tecnologia em rede permite que as plataformas não apenas se tornem o principal ambiente onde ocorrem as atividades econômicas, sociais, culturais e políticas, mas também concede aos operadores das plataformas o poder de registrar todos os dados e metadados dessas atividades, agregando informação sobre hábitos de consumo, preferências pessoais, dados sobre transações comerciais e bancárias, fluxo de trânsito, tráfego de notícias etc..

    Em 1999, David Schiller já enxergava o capitalismo digital como o marco de uma nova época, em que o espaço digital passa a moldar a economia global e “as redes generalizam o alcance social e cultural da economia capitalista” (Schiller, 1999, p. 14). Essa percepção pode ser comprovada no corrente fenômeno de plataformização da vida social, uma tendência observada em diferentes dimensões, como na economia e no mercado de trabalho (Grohmann, 2022), na educação e na cultura (Júnior; Oliveira, 2023), na política e em outros aspectos.

    Em perspectiva crítica, além de problematizar a mediação da informação como ação de interferência (Almeida Júnior, 2009), o que desmascara uma suposta neutralidade dos algoritmos e sistemas de classificação da informação operantes nas plataformas, devemos considerar que a plataformização da vida social revela uma crescente dependência do uso de plataformas digitais – que são propriedade de um punhado de corporações capitalistas internacionais – por indivíduos, organizações (comerciais ou não comerciais) e até mesmo por Estados e suas instituições, seja para realizar atividades culturais, educacionais, transações econômicas, relações sociais e políticas ou atividades de trabalho. Esse processo engendra a “reorganização de práticas e imaginações culturais em torno de plataformas” (Nieborg; Poell; Van Dijck, 2020, p. 5), instituindo uma condição de dependência que é vista por alguns autores como uma forma de colonialismo de dados (Silveira; Souza; Cassino, 2021) ou colonialismo digital (Faustino; Lippold, 2023).

     

  • Palavras-chave
  • mediação da informação; plataformas digitais; plataformização; soberania tecnológica
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT7 - Estudos Críticos em Ciência da Informação
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