A longa “crise do jornalismo” é tema que assombra inúmeros teóricos sem que alguém tenha conseguido sequer tatear uma saída para os problemas que assolam o campo. De um lado, com o advento da internet, as empresas do ramo passaram a conviver com uma audiência diminuta, situação que derruba os rendimentos da indústria de notícias de dois lados uma vez que, como pontua Bolaño (2000), as indústrias culturais podem vender duas mercadorias: o bem simbólico ou seu acesso - revistas, livros, discos e assinaturas (acesso) - e audiência. Por outro lado, há um descrédito em relação ao papel dos jornalistas de “sistema perito” (MIGUEL, 2022) em selecionar e apurar fatos de interesse público que é desempenhado pelo campo jornalístico desde o pós-guerra.
O grande problema da maioria das leituras sobre a crise do jornalismo - geralmente tecnodeterministas ou que reclamam a importância do bom jornalismo para o funcionamento de uma democracia liberal idealizada e fragilizada - é o baixo grau de abstração dessas teorizações. Seu sucesso, apesar dos resultados duvidosos de seus prognósticos, reside em ser o pensamento dominante dentro dessa área de pesquisa devido ao fato de propor uma reconfortante nostalgia do fordismo (BRAGA, 2003). Salaverria e Negredo (2009) são um exemplo flagrante da falta de perspectiva oferecida por esses autores. Os espanhóis, por exemplo, colocam as esperanças da reconstrução do jornalismo na reestruturação das empresas - que aconteceu anteriormente em outras áreas - permitida pela chegada das TIC às redações contando com a boa vontade das empresas proprietárias em não diminuir mão de obra, por exemplo.
Uma das saídas tecnodeterministas propostas está no relatório “Jornalismo pós-industrial” de autoria de Anderson, Bell e Shirky (2013). Um conceito um tanto frouxo e extremamente equivocado, uma vez que o conceito de sociedade pós-industrial de Bell (1977) é ele mesmo uma fantasia ideológica, uma vez que o setor industrial não deixou de ser a principal fonte de valor na economia capitalista e o conhecimento - que seria o principal insumo na chamada economia pós-industrial - é fruto de trabalho e acaba por se transformar em trabalho plasmado em software/ maquinaria. Além disso, o conceito de indústria cultural carrega um significado metafórico (ADORNO, 2001) estando relacionado à padronização e não à reprodução de técnicas industriais na produção de bens culturais.
Na verdade, como aponta Bernardi (2023), as TIC - apontadas como a salvação do jornalismo pelos teóricos mainstream do campo - são, na verdade, um sintoma da própria crise. As causas da crise do jornalismo apontada por Almiron (2010) - que parte do marco teórico da EPC - coloca na financeirização e na conglomeratização as causas da crise do jornalismo quando na verdade a crise do jornalismo também é sintoma de uma crise maior do sistema capitalista. Nossa proposta de saída para o que chamam crise do jornalismo é a reorganização do jornalismo pelos próprios jornalistas através da apropriação social das TIC (FIGUEIREDO, 2018) para realizar um jornalismo emancipatório e emancipador que passa pela consciência da sua realidade como trabalhador (FIGUEIREDO e BOLAÑO, 2018)
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)