O presente artigo, aqui apresentado em resumo, tem como objetivo discutir os modos de atuação do colonialismo no contexto do capitalismo digital, bem como as suas implicações sobre o cotidiano e as relações de trabalho. Através de uma revisão bibliográfica sobre colonialismo de dados, produção social da realidade e trabalho, aponta-se que a sociedade dataficada é marcada por uma atualização permanente das ferramentas de exploração e controle dos corpos e dos territórios, promovendo o aprofundamento das desigualdades, do racismo e da precarização da vida.
Em termos metodológicos, inicialmente é feita uma discussão sobre a reconfiguração do cotidiano; em seguida, apresentam-se apontamentos sobre colonialismo digital e racismo algorítmico; e, posteriormente, aborda-se as repercussões da inteligência artificial nas relações de trabalho. Ao final, são ainda propostas possibilidades contra-hegemônicas no contexto do capitalismo digital.
Na contemporaneidade, o cotidiano é marcado por uma produção incessante de dados, a partir dos mais variados dispositivos conectados à internet. A forma pela qual as novas tecnologias da informação e comunicação atuam na vida cotidiana, atreladas aos grandes centros de negócios e interesses globalistas, atestam a transformação no modo de acumulação de capital, que enseja um novo ecossistema existencial pautado, de maneira exacerbada, pela financeirização da realidade cotidiana (SODRÉ, 2021). Este processo está intimamente vinculado a uma reconfiguração do espaço e do tempo. Neste contexto, o trânsito entre espaços, sejam eles físicos ou virtuais, ganha um incremento nunca antes visto, permitindo que um indivíduo esteja em interação com diferentes espaços ao mesmo tempo. No entanto, como dito por Milton Santos (2006), o fenômeno da comunicação à distância cria novas formas de desigualdades, visto que, historicamente, as relações espaciais sempre foram marcadas por exclusões.
Essas desigualdades e exclusões são aqui percebidas tomando em consideração o colonialismo e o racismo como chaves analíticas. Com base na formulação teórica de Césaire (2020) a respeito da exploração colonial entre os séculos XV e XX, propõe-se uma reflexão sobre as “mentiras” e equações “desonestas” como sustentáculos discursivos também do colonialismo digital, sendo dois exemplos estruturantes a ideia de neutralidade das tecnologias e o solucionismo tecnológico.
Uma contribuição relevante nesta direção é a de Silva (2019; 2022; 2023), que, ao propor o conceito de racismo algorítmico, convoca à reflexão sobre a existência de uma dupla opacidade quanto ao aspecto da racialização no debate sobre tecnologias: de um lado, a ideia de tecnologia e algoritmos como neutros; de outro, a ideologia de negação da raça enquanto uma categoria que estrutura as relações sociais.
Na resistência a este cenário, movimentos contra-hegemônicos existem, ainda que com novas roupagens e linhas de ações condizentes com os circuitos estabelecidos. São movimentos que utilizam as tecnologias digitais para informar, mobilizar e construir redes de articulação. No entanto, por estarem operando em bolsões dentro da arquitetura destas plataformas, é necessário também discutir os limites e desafios desses movimentos.
Assim, este artigo insere-se no conjunto de investigações preocupadas em analisar tanto as características fundamentais do colonialismo digital, e as suas reverberações nas dinâmicas de trabalho, quanto as resistências a este processo.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)