O trabalho busca construir uma análise das metamorfoses e movimentos políticos do patrimonialismo brasileiro (Faoro, 2001), por meio da midiatização (Grohmann, 2019) dos debates do agronegócio de um veículo abertamente conservador, o jornal Gazeta do Povo, associado à defesa da propriedade privada em sua cobertura noticiosa, englobando o imaginário ruralista de um Brasil exportador, do agronegócio como motor da economia nacional. O período a ser estudado se fixa entre a legislatura 2019-2022 no mandato presidencial de Jair Bolsonaro e também, a forma como ele construiu o discurso em relação ao MST (Movimento Social dos Trabalhadores Sem Terra) como uma força antagônica aos interesses das classes dominantes agrárias do país (Bastos, 2015).
Trata-se de uma pesquisa mais ampla que observa alguns pilares estruturais que conduzem o agronegócio: 1) a visão do agronegócio como motor econômico; 2) a dimensão política do agronegócio através da bancada ruralista; 3) a publicização / midiatização do agronegócio como algo próximo-distante (a retórica do agro está em tudo) e 4) a dialogia do agronegócio através da cultura massiva da música e o estilo de vida sertanejo. O estudo apresentado avança sobre a investigação do jornal A Gazeta do Povo, corpus escolhido para ser analisado, por se tratar de um veículo jornalístico centenário que se repaginou a partir do avanço das pautas conservadoras no país, especialmente com a ascensão do presidente Jair Bolsonaro ao poder. Para além das questões do conservadorismo, o jornal se notabiliza por um alinhamento com o pensamento neoliberal, com ênfase para mercados e negócios. Cabe ressaltar também que ao assumir o papel de mídia conservadora, a Gazeta do Povo deixou de ser um veículo local, ultrapassando as fronteiras de Curitiba e tornando-se uma mídia nacional a partir do aumento exponencial de leitores nos meios digitais.
O objetivo é apresentar um estudo inicial sobre como ocorre a midiatização do debate do agronegócio, da bancada ruralista e do MST (Movimento Rural dos Trabalhadores em Terra) e suas relações com os capitais políticos, econômicos e comunicacionais. Desvelar essas relações, numa sociedade midiatizada, e compreender como essas relações se materializam em
discursos conservadores. A midiatização entrega a estrutura que garante o alastramento do capitalismo, enquanto neutraliza as posições antagônicas a esse avanço. Confronta os objetos do mercado comunicacional e os impactos sócio ambientais dessas práticas mercantis. Ressalte-se também que é a perspectiva do processo de difusão, atravessamento e impacto dos sentidos produzidos pelos meios de comunicação, nos espaços sociais contemporâneos. Entender que a “ação” no final da palavra midiatização, é um processo e não um sistema fechado.
Para isso será inicialmente feita a análise do título de três matérias publicadas no jornal e escolhidos para este artigo. No entanto, no universo previamente sondado no Gazeta do Povo, foi possível encontrar cerca de cinco mil matérias sobre o agronegócio, quatro mil sobre a bancada ruralista e mil matérias sobre o MST, quando pesquisado por essas palavras-chave. O percurso metodológico envolverá a pesquisa documental e bibliográfica de caráter teórico que possibilite uma compreensão sobre a ideia de midiatização desses temas.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)