Filmes são como sonhos: as ficções de uma identidade no cinema negro brasileiro entre a experiência e a fabulação

  • Autor
  • Rafael Luan da Silva
  • Resumo
  • O cinema ao contrário da arte teatral, buscou desde seu advento uma relação com a fidelidade de representar o real. A ficção enquanto gênero cinematográfico se pauta por uma representação desse realismo através de alegorias, que mesmos fantasiosas, articulam uma série de elementos que dão sentido a determinando universo. Pensar o cinema e o uso da “ficção” para transpor uma experiência de vida cotidiana é uma prática que se estabelece nos filmes problematizados neste artigo. O consumo da imagem do corpo negro no cinema, televisão e rádio possui um histórico de que demarca o lugar de subalternidade para as identidades negras, reforçando estereótipos e criando narrativas visuais racistas.

    A experiência da ficção como ferramenta de reinvenção do familiar, se exemplifica no contexto dos realizadores Gabriel Martins e André Novais Oliveira, sócios e co fundadores da produtora “Filmes de Plástico”. Através da metodologia de análise fílmica da imagem e do som este trabalho busca identificar nos filmes “Quintal” e “Rapsódia para o homem negro”, aspectos que dimensionam o uso da fabulação como possibilidade de relacionar o cotidiano como dimensão estético-política que ressignifica as imagens dos sujeitos negros na sociedade e crie outras possibilidades de identificação. A análise da imagem e som permite-nos pensar os diferentes usos da linguagem e do espaço fílmico pelos realizadores na construção dessa relação entre a fabulação e o cotidiano.

    A linguagem do audiovisual e o cinema enquanto tecnologia e prática, se constitui aqui enquanto um discurso. Isto por que dentro do que se convencionou entender como cinema, se instaurou uma fala sobre tal. Uma representação compartilhada com elementos que definem o que seria ou não cinema de ficção, por exemplo. O modo de fazer desse cinema que emerge nas periferias brasileira e encontra nesse modo um pensar sobre o comum e o banal, é fruto de um processo histórico que revela diferentes usos das práticas cinematográficas para retratar um outro sujeito negro. A objetificação e fetichização de corpos negros através das imagens geradas pelo cinema faz parte de um projeto político, que instrumentaliza a linguagem cinematográfica na busca de constituir um arquétipo que cristaliza o outro.

    A marginalização recorrente nos processos de distribuição e redistribuição das imagens dificultam o desenvolvimento de estratégias cinemáticas autoconscientes, no entanto, é preciso se dedicar a perspectivas inovadoras nas formas de capturar determinadas realidades. A relação com o onírico ao mesmo tempo que se constitui como narrativas que reproduzem um cotidiano banal se estabelecem nos filmes analisados a partir das questões territoriais, seja o lugar da casa ou do bairro, em Quintal e Rapsódia a história se desenvolve a partir de premissas que permeiam a estética naturalista ao mesmo tempo que possui camada de um realismo fantástico. A construção de um ideal de cinema negro que consiste em filmes que se colocam diante da expectativa que sejam mais “radicais” ou “políticos”, é permeada por contradições e limita o processo criativo de cineastas negros que se dedicam a elaborar imagens mais complexas dessa população.

     

  • Palavras-chave
  • Cinema; Identidade; Ficção; Representação Social
  • Modalidade
  • Comunicação oral
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