O cinema ao contrário da arte teatral, buscou desde seu advento uma relação com a fidelidade de representar o real. A ficção enquanto gênero cinematográfico se pauta por uma representação desse realismo através de alegorias, que mesmos fantasiosas, articulam uma série de elementos que dão sentido a determinando universo. Pensar o cinema e o uso da “ficção” para transpor uma experiência de vida cotidiana é uma prática que se estabelece nos filmes problematizados neste artigo. O consumo da imagem do corpo negro no cinema, televisão e rádio possui um histórico de que demarca o lugar de subalternidade para as identidades negras, reforçando estereótipos e criando narrativas visuais racistas.
A experiência da ficção como ferramenta de reinvenção do familiar, se exemplifica no contexto dos realizadores Gabriel Martins e André Novais Oliveira, sócios e co fundadores da produtora “Filmes de Plástico”. Através da metodologia de análise fílmica da imagem e do som este trabalho busca identificar nos filmes “Quintal” e “Rapsódia para o homem negro”, aspectos que dimensionam o uso da fabulação como possibilidade de relacionar o cotidiano como dimensão estético-política que ressignifica as imagens dos sujeitos negros na sociedade e crie outras possibilidades de identificação. A análise da imagem e som permite-nos pensar os diferentes usos da linguagem e do espaço fílmico pelos realizadores na construção dessa relação entre a fabulação e o cotidiano.
A linguagem do audiovisual e o cinema enquanto tecnologia e prática, se constitui aqui enquanto um discurso. Isto por que dentro do que se convencionou entender como cinema, se instaurou uma fala sobre tal. Uma representação compartilhada com elementos que definem o que seria ou não cinema de ficção, por exemplo. O modo de fazer desse cinema que emerge nas periferias brasileira e encontra nesse modo um pensar sobre o comum e o banal, é fruto de um processo histórico que revela diferentes usos das práticas cinematográficas para retratar um outro sujeito negro. A objetificação e fetichização de corpos negros através das imagens geradas pelo cinema faz parte de um projeto político, que instrumentaliza a linguagem cinematográfica na busca de constituir um arquétipo que cristaliza o outro.
A marginalização recorrente nos processos de distribuição e redistribuição das imagens dificultam o desenvolvimento de estratégias cinemáticas autoconscientes, no entanto, é preciso se dedicar a perspectivas inovadoras nas formas de capturar determinadas realidades. A relação com o onírico ao mesmo tempo que se constitui como narrativas que reproduzem um cotidiano banal se estabelecem nos filmes analisados a partir das questões territoriais, seja o lugar da casa ou do bairro, em Quintal e Rapsódia a história se desenvolve a partir de premissas que permeiam a estética naturalista ao mesmo tempo que possui camada de um realismo fantástico. A construção de um ideal de cinema negro que consiste em filmes que se colocam diante da expectativa que sejam mais “radicais” ou “políticos”, é permeada por contradições e limita o processo criativo de cineastas negros que se dedicam a elaborar imagens mais complexas dessa população.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)