A investigação objetiva analisar como o capitalismo e as elites brasileiras se alimentam da exploração de mulheres negras. Para atingir esse objetivo, será feita a análise historiográfica da situação da mulher negra no Brasil por meio das lentes de Lélia Gonzalez, considerando o materialismo histórico e as divisões de classe discutidos por Karl Marx, e considerando também o racismo e o sexismo contra mulheres negras, discutidos por Bell Hooks.
Marx e Engels (2007, p. 29) definem que “a ‘libertação’ é um ato histórico e não um ato de pensamento, e é ocasionada por condições históricas, pelas condições da indústria, do comércio, da agricultura, do intercâmbio”. Adicionalmente, Marx (2017, p. 852) destaca que os aspectos raciais são parte do conjunto das circunstâncias reais que fazem com que uma mesma base econômica possa se manifestar de diferentes maneiras em distintos contextos históricos e regionais.
Esses princípios indicam que a liberdade é uma possibilidade que depende, não só das dinâmicas econômicas envolvidas na produção e reprodução da vida, mas também das condições raciais e de gênero, que são histórica e geograficamente específicas.
O desenvolvimento do conceito de raça para a subjugação de sujeitos não-brancos foi essencial, durante séculos, para o sequestro de povos africanos e seu deslocamento forçado para as Américas para trabalho escravo. É a partir do racismo que o capitalismo cria um relevante contingente do exército industrial de reserva como também uma massa marginal crescente em face de trabalho em um setor hegemônico (Gonzalez, 2020). E a criação dessa massa para o setor industrial também se dá a partir da divisão sexual do trabalho e da expropriação do direito de produção e reprodução da vida, incluindo o direito reprodutivo e o direito ao bem viver das mulheres. Assim, uma tríplice opressão recai sobre a mulher negra, isto é, opressão de classe, de raça e de gênero (Gonzalez, 2020).
No que refere às mulheres negras nesse contexto, a situação se intensifica quando, além da sua exploração pela raça, une-se a exploração de gênero que, ao mesmo tempo que as reifica, as desumaniza e tira suas liberdades e seus pertencimentos de mundo. A violência contra a população negra sempre contou com requintes de crueldade. Entretanto, para mulheres negras, tais violações vieram atreladas também à violência sexual, obstétrica e de gênero (Hooks, 2019). Durante os anos, as formas de opressão, reificação e exploração das mulheres negras adquiriram novas roupagens, mas continuam a serviço do capital e dos desejos de uma elite que personifica a dominação do capital.
A opressão, como subproduto e ferramenta do capitalismo, é imprescindível para acumulação de capital desde o surgimento desse modo de produção e das relações sociais que lhes são subjacentes. Como Marx e Engels (2008) afirmam, a sociedade burguesa que nasceu com o declínio feudal, não acabou com as contradições de classe. Ela desenvolveu novas relações sociais, novas formas de opressão e novas formas de luta. No contexto brasileiro, a constituição do país como um Estado-Nação está atrelada à divisão desigual de classes e suas interseccionalidades.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
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Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)