Ao longo de décadas de pesquisa acerca da trajetória histórico-epistemológica da Arquivologia, observou-se a circulação, a difusão e a apropriação de conhecimentos dos países do Norte nos países do Sul. Constata-se a colonização pelo conhecimento arquivístico eurocêntrico e norte-americano, sobretudo, acriticamente incorporado no ensino e nos estudos desenvolvidos na América Latina e África. Em decorrência de uma ampla pesquisa internacional, os canadenses Couture, Martineau e Ducharme (1999) publicaram uma “Tipologia dos campos de pesquisa em arquivística”, que embora seja utilizada como referência internacional e contemple “as relações entre arquivos e sociedade”, não dá conta da realidade brasileira. Em 2012, o brasileiro Jardim publica um capítulo de livro sobre a pesquisa na área e, ao refletir sobre as particularidades do Brasil, apresenta uma proposta que retoma alguns dos temas da tipologia anterior e acrescenta outros, dentre os quais destacamos “políticas arquivísticas” e “percepção social dos arquivos. As duas propostas vêm sendo utilizadas para a classificação de trabalhos sobre os arquivos e a Arquivologia, em mestrados e doutorados de áreas diversas, e em cursos de graduação de Arquivologia (Marques, 2007, 2011, 2018, 2020). No entanto, elas têm se mostrado insuficientes, ao não alcançarem as nuances do cenário brasileiro. Mais do que isto: classificações internacionais e suas influências locais têm representado uma hegemonia do Norte sobre o Sul, por vezes reiterando regimes de informação estrangeiros alheios às necessidades locais. Assim, o objetivo desta comunicação é compartilhar uma abordagem crítico-reflexiva, em que se busca eixos mínimos para a concepção de uma agenda de pesquisa em Arquivologia no Brasil que seja plural e inclusiva, tecendo a crítica à hegemonia classificatória do norte em relação ao sul, bem como à reprodução de regimes de informação alienados da realidade nacional. Para tanto, relata uma pesquisa qualitativa, exploratória, descritiva e explicativa, que vem sendo desenvolvida há 22 anos, em diferentes estágios, via pesquisa bibliográfica e documental. A partir de vários levantamentos no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, mapeou-se trabalhos predominantemente voltados para questões técnicas (microarquivologia) e poucos relacionados a aspectos políticos (macroarquivologia). Verificou-se que, entre 826 dissertações e teses com temas arquivísticos, apenas uma delas se referia à diversidade; duas, a questões raciais e duas, a questões de gênero, tão sensíveis socialmente. Os resultados apontam para a necessidade de concepção de uma agenda de pesquisa que seja mais aderente e sensível à realidade brasileira e que mutuamente considere as temáticas já contempladas na produção científica da área, nutrindo-a com possibilidades de investigação que abordem transversalmente: desde a polissemia do arquivo como objeto de estudo dessa disciplina; a epistemologia e a história do objeto, da disciplina e do profissional que nela atua, bem como as suas atividades e o seu meio; as políticas de arquivo, a governança e a gestão de documentos, informações e dados; os usos e usuários de arquivo na sua diversidade e pluralidade; e, por fim, a função social dos arquivos no escopo da democracia, ética, justiça, equidade, inclusividade e acessibilidade.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)