A expansão do mercado da publicidade digital é inegável: cada vez mais, indivíduos têm seus status de cidadãos diretamente atrelados à capacidade de consumo na sociedade capitalista. O estudo e a aplicação da Experiência do Usuário (UX) em grandes empresas já é lugar comum nesse mercado. Ainda assim, existe uma lacuna acadêmica na compreensão e no aprofundamento da disciplina de UX à luz da Economia Política da Comunicação (EPC).
Esta discussão é parte da pesquisa A Experiência do Usuário no capitalismo tardio: novas relações de consumo e aprofundamento de contradições do sistema no cotidiano midiatizado, que está sendo desenvolvida no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano, da Universidade Federal Fluminense (PPGMC-UFF).
Durante o levantamento bibliográfico, ficou clara a necessidade de estabelecer um diálogo entre a disciplina de UX e as noções de Mídia e Cotidiano. Um dos pontos de partida é a relação entre a falta de momentos de contemplação dos sujeitos contemporâneos, especialmente devido a constante exposição a qual estão submetidos por meio de smartphones, mídias sociais digitais e conteúdo hiperpersonalizado, e a consolidação de novas formas no "fazer" da publicidade digital - especificamente, a ascensão da UX como norma e regra de conteúdo.
Partindo de um conjunto de reflexões de Jonathan Crary, em 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono [2013]/(2016) , e de Mark Fisher, em Realismo capitalista [2009]/(2020), a proposta é articular conceitos que corroboram o sentimento pessimista em que a contemporaneidade está imersa. Desde a colonização dos sonhos pelo capital (Fisher, 2009), até a perda da capacidade de sonhar acordado (Crary, 2013), o cidadão do século XXI, além de ter sido alçado ao papel de consumidor como afirmador da cidadania, é refém de uma lógica de consumo desenfreado que ultrapassa as fronteiras do "mundo real", atingindo desejos, sonhos e aspirações.
Em uma sociedade em que um clique a mais pode ser a chave para a libertação de uma monotonia constante, em que momentos de intervalos vazios são vistos como perda de tempo, o esgotamento da capacidade do sonho, da utopia, é um fator de opressão adicionado no contexto da luta de classes. A velocidade de operação e a necessidade da captura da atenção, por grandes corporações e pequenos produtores – transformados em criadores de conteúdo –, contribui para o estabelecimento de disciplinas como a Experiência do Usuário, conforme descrita por Donald Norman [1988]/(2006).
A conexão com o cotidiano é fio condutor e se dá através do olhar de Agnes Heller [1970]/(2008), ao debater a vida cotidiana como ambiente estabelecedor de práticas e identidades dos sujeitos, e de Henri Lefebvre [1968]/(1991) ao compreender o cotidiano enquanto espaço de disputa de poder e dominação.
Também é inevitável refletir sobre o processo de midiatização que funciona como amálgama para as relações supracitadas. Os estudos de Luís Mauro Sá Martino (2015), sobre Teoria das Mídias Digitais, e Muniz Sodré (2002), sobre bios virtual, ajudam a determinar possíveis vínculos entre a ausência do vazio e a Experiência do Usuário no capitalismo tardio, no cotidiano midiatizado.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)