O debate sobre as relações entre trabalho e educação vêm assumindo novos contornos devido às mudanças culturais de base informacional. Pode-se destacar como principais fenômenos desse novo contexto a contínua automação das fábricas, a precarização do trabalho associado ao uso de plataformas digitais (uberização) e a massificação da educação a distância mediada pelas novas tecnologias da informação.
Neste contexto, acredita-se que a informação se tornou categoria indissociável das discussões sobre trabalho e educação na contemporaneidade, sendo objetivo deste trabalho buscar definir uma categoria que possibilite a compreensão das relações entre o trinômio trabalho-educação-informação. Para alcançar esse objetivo realizou-se uma pesquisa básica, do tipo exploratória e bibliográfica.
Um caminho inicial poderia ser encontrado por meio do conceito de mediação, como desenvolvido em autores tais quais Marx (2023), Mészaros (2002), Martins (2021) e Bezerra. Em Marx (2023), o processo formador do ser humano se dá pela mediação do trabalho. O trabalho é o que Mészaros (2002) define, portanto, como mediação primária, ou seja, como aquele processo fundamental para a reprodução da existência humana. Outra categoria classificável como mediação primária seria a educação.
Entretanto em formações sociais baseadas na dominação de uma classe sobre outra, como é o caso do capitalismo, tais mediações obedecem aos interesses e ao modo de produção desenvolvida pelas classes dominantes. Elas se tornam assim mediações de segunda ordem, de acordo com Mészaros (2002), destituindo-se de sua característica principal (a formação da humanidade como tal), para atender em primeiro lugar às necessidades de produção de riquezas para as classes dominantes e propiciar a efetivação de suas estruturas hierárquicas.
Sob a base informacional na qual se estabelece o capitalismo contemporâneo, tais processos mediacionais passaram, porém, a serem questionados pelas classes dominantes. Sob o argumento da construção de uma nova sociedade, a Sociedade da Informação, o discurso dominante passou a apoiar a ideia de que para se alcançar uma melhor vivência coletiva globalizada seria necessário superar as amarras do passado e propor uma vida desintermediada. A desintermediação promoveria a democracia, a liberdade e o progresso para todos (MARTINS, 2021).
Entretanto, Bezerra (2017) destaca que o que está acontecendo no capitalismo contemporâneo é, na verdade, um processo reverso ao que propõe o discurso dominante. A constante dependência às plataformas digitais em todos os aspectos da vida (incluindo o trabalho e a educação), revelam que está se vivendo a expansão de um novo regime global de mediação da informação.
O estágio atual do capitalismo requer, portanto, que se compreendam a reestruturação do trabalho e educação sob a ótica da informação (dos algoritmos, das plataformas digitais, dos meios de comunicação). Dessa forma, acredita-se portanto que para superar os processos de dominação contemporâneos é necessário revisitar o conceito de informação, inter-relacioná-lo com os processos de formação da vida humana (enquanto mediação primária), sua subsunção ao capital (enquanto mediação de segunda ordem) e a possibilidade de sua reapropriação pelas classes dominadas (a classe trabalhadora mais especificamente) para se propor um outro regime global de mediação da informação, pautado na emancipação e da libertação dos oprimidos.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)