A SUBSUNÇÃO DO TRABALHO DO JORNALISTA NAS ASSESSORIAS DE COMUNICAÇÃO EM ALAGOAS

  • Autor
  • Pollyane de Souza Martiniano
  • Co-autores
  • Júlio Arantes Azevedo
  • Resumo
  • O exercício do jornalismo possui semelhanças ao que Marx (2023) chama de manufatura heterogênea, onde os indivíduos são designados para o ofício que possuem qualificação – na estruturação de um veículo de comunicação, o ideal é que cada pessoa seja encarregada de uma função, seja reportagem, edição, diagramação, fotografia, entre outras – para a entrega de um produto final: o telejornal, o jornal impresso ou digital, etc. Contudo, de acordo com Figueiredo (2019), esse cenário é rompido pela subsunção desses papéis, ampliados por dois fatores: o cotidiano laboral e a cultura profissional. 

    A expansão das atividades do jornalista, para além da tradicional conjuntura de redação e a condição de divisão das atribuições, foi adaptada para se encaixar no modelo do capitalismo monopolista. Segundo Souza (2017), nessa disposição, a práxis jornalística é afetada em sua totalidade, ocasionando um afastamento desses profissionais dos seus princípios, sendo criada uma dinâmica de trabalho mais próxima a uma finalidade mercadológica do que social. 

    Abarca também como um revés o que faz um comunicólogo, que engloba desde a redação de texto até a comunicação organizacional. Logo, não há distinção: a ideia do que é jornalismo é deturpada, vinculando à área funções destinadas à relações públicas e, até mesmo, publicidade. Atualmente, o jornalista virou social media, analista e gestor de redes sociais digitais com foco em marketing. Em uma pesquisa exploratória do mercado de trabalho digital, com 250 profissionais de diferentes locais do Brasil, Lencina & Corso (2024) apontam que o jornalismo é um dos cursos mais atuantes nesse nicho, ocupando 8,8% dos cargos. 

    Esse desvio de função provoca a desvalorização e a precarização do jornalista, que realiza múltiplas atividades relacionadas à sua área de atuação, como texto, vídeo e fotografia, mas com um direcionamento publicitário. Tal configuração advém da mídia hegemônica, que subjuga o trabalho do jornalista a favor dos interesses econômicos dominantes. Em Alagoas, os políticos representam esse poder (Santos & Azevedo, 2016), visto que os maiores veículos de comunicação locais (TV Gazeta, TV Pajuçara e TV Ponta Verde) foram criados por autoridades políticas, respectivamente: senador Arnon de Mello (1963-1981), deputado federal José Thomaz Nonô (1983-2007) e vice-governador Geraldo Sampaio (1999-2002). Assim, comunicação e política se fundem no território alagoano. 

    Com esse trabalho vivo se tornando mais supérfluo com o advento das tecnologias (Figueiredo, 2019), o objetivo do profissional que atua nesse ambiente é usar as páginas das mídias sociais como espaços de divulgação de informações de interesse público, mas favorecendo a imagem dos políticos. Desse modo, as relações de poder fincadas na cotidianidade modificam os valores profissionais do jornalista, transformando o que ele produz em algo isento de criticidade e sem propósito social. 

     

    Isso posto, usando o referencial teórico da Economia Política da Comunicação (FIGUEIREDO, 2019; DOURADO, LOPES, MARQUES, 2016; JAMBEIRO, BRITTOS, BENEVENUTO, 2005), a proposta desse texto é refletir as mudanças do trabalho do jornalista no contexto do cotidiano laboral das assessorias dos órgãos públicos de Alagoas, compreendendo a descaracterização desse profissional e as consequências dessa conjuntura para a comunicação. 

  • Palavras-chave
  • Trabalho do Jornalista; Assessoria de Comunicação; Jornalismo Alagoano
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT5 - Economia Política do Jornalismo
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