Como o pensamento de Paulo Freire pode orientar a comunicação pública? Partindo dessa questão, colocamos em prática uma investigação bibliográfica e documental, apoiada ainda em entrevistas e observação participante, na Rádio Paulo Freire/DCOM/UFPE, único equipamento de comunicação idealizado e gerido pelo Patrono da Educação Brasileira, com o objetivo de identificar as contribuições do pensamento freireano ao campo da Comunicação Pública. Nossas hipóteses principais são a de que, na pedagogia freireana (FREIRE, 1976, 1983, 1994, 1994), há elementos para se ampliar a concepção de comunicação pública, levando em conta suas fronteiras conceituais, e a de que há vestígios epistemológicos a serem recuperados por meio da rádio que Freire idealizou.
Em nosso trabalho, filiamo-nos à compreensão de comunicação pública que abrange, genericamente, as práticas comunicacionais voltadas ao interesse público e à promoção da cidadania e da democracia. Então, quando falamos em comunicação pública, referimo-nos a práticas que, ao se efetivarem, materializam a garantia ao direito humano à comunicação, em sua potência social e transformadora, seja a partir de instituições públicas, seja a partir de outros atores sociais (BRANDÃO, 2009, 2012; DUARTE, 2009; OLIVEIRA, 2004; BUCCI, 2022).
Além de um problema ontológico (o que e como é a comunicação que serve à sociedade, sob uma perspectiva democrática?), as democracias atuais enfrentam uma séria questão ética, a da instrumentalização para uso político ou pessoal das ferramentas e recursos de comunicação disponíveis no setor público (BUCCI, 2015; WEBER & LOCATELLI, 2022).
A partir desses entendimentos, para propor uma nova visão sobre comunicação pública baseada em Paulo Freire, seguimos a trilha de alguns modelos metodológicos utilizados em estudos brasileiros de cotejamento epistemológico entre o pensamento freireano e a Comunicação Popular (PERUZZO, 2024) e o Jornalismo (OLIVEIRA, 2017, 2020; PEREIRA JUNIOR, 2015).
Nessa jornada, a Rádio Paulo Freire, que já vem oferecendo importantes contribuições à sociedade, enquanto local de encontros, memória, ensino, pesquisa e extensão, é observada enquanto equipamento que, em tese, encarna a epistemologia e o modus operandi freireanos. Ela está no ar com esse nome desde 2019; entretanto, sua origem remonta ao início da década de 1960, no âmbito do Serviço de Extensão Cultural (SEC), de onde a então Rádio Universidade (atual Rádio Paulo Freire) era parte, e está imbricada à própria trajetória biográfica de Paulo Freire, sob influência basilar do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife. Naquele momento, seu lema era uma rádio a serviço da democratização da cultura; hoje, é a rádio que fazemos juntos (VELOSO ET AL., 2019).
Nosso esforço de evidenciar o pensamento de Paulo Freire na Comunicação Pública enquadra-se no rol dos gestos políticos de valorizar a produção intelectual brasileira e latino-americana, bem como de fortalecer a própria demanda cidadã frente às investidas antidemocráticas da extrema direita no Brasil e no mundo.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)