O racismo brasileiro tem assumido formas distintas ao longo das décadas para perpetuar sua estrutura baseada no capital da exploração humana. Raça é um conceito relacional e histórico (Almeida, 2019), isso significa que a concepção do que é racismo estará sempre inevitavelmente atrelada às circunstâncias históricas em que estiver aplicada. Da mesma maneira, que entendemos a comunicação a partir da Economia Política da Comunicação (EPC) como uma forma social do capital, entendemos que a comunicação é um elemento do racismo estrutural (SANTOS, 2021) e que o racismo também se apresenta em diferentes formas a partir da comunicação, através da Indústria Cultural enquanto instância mediadora do capital (BOLAÑO, 2000). O racismo enquanto elemento central da estrutura capitalista demanda da comunicação estratégias que apaguem simbolicamente as barreiras e contradições do capital.
Nesse sentido, é possível mapear as mudanças na apresentação do racismo conforme os interesses do capital, muda-se a narrativa, mas não se altera a estrutura. Da redenção de Cam à representação capitalizada, ou seja, de produtos culturais carregados de estereótipos racistas que moldaram negativamente o inconsciente social da população brasileira à fase em que entendemos como Representação ou Representatividade Capitalizada. O negro vende, mas a que custo?
A Representatividade Capitalizada é resultado de uma nova configuração do racismo estrutural que tenta convencer no nível das aparências que o racismo estrutural é um problema que já está sendo superado. Esse é um caminho curto, que pode parecer mais fácil, mas que se sai do lugar. É preciso cuidado para não cair no “canto da sereia” (OLIVEIRA, 2021, p. 54)
Para chegar em tal argumentação utilizamos o método de pesquisa bibliográfica para ser possível ter em mãos o aporte teórico necessário para falar sobre raça, classe e Economia Política da Comunicação.
É evidente que o conceito de racismo estrutural ganhou relevância, mas também tem se esvaziado em sentido. Em nossa elaboração teórica, propomos a hipótese de que a “maquiagem da discriminação racial” não é oposta à ideia de que o racismo no Brasil é sim estrutural, mas é mais uma face da mesma moeda (OLIVEIRA, 2021, p. 19) e a comunicação sob o prisma da EPC tem um papel fundamental para a perpetuação do racismo em seus diferentes disfarces, em suas novas configuraçãoes. Sílvio de Almeida, autor que popularizou de forma brilhante o conceito de racismo estrutural, em entrevista ao podcast Mano a Mano, conduzido pelo rapper Mano Brown, opinou que “com o desenvolvimento das sociedades o racismo já não ousa se apresentar sem disfarces”.
O objetivo desse trabalho é caminhar com a EPC para o desenvolvimento de um argumento teórico robusto capaz de entender as especificidades do racismo e seu papel dentro do capitalismo no Brasil em tempos de Representação Capitalizada.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)