Participação é tema recorrente nas discussões de gênero visto que a estrutura social coloca as mulheres à margem da política, seja em vias institucionais ou nos movimentos sociais. Este resumo traz uma reflexão sobre participação de mulheres no movimento sindical. Partimos de uma perspectiva classista, defendendo que gênero, classe e raça coexistem de forma dinâmica na sociedade (Kergoat, 2010). Acreditamos que a interação dos movimentos sociais - mesmo que vislumbrem os interesses das classes subalternas e, na maioria das vezes, busquem a superação do capitalismo (determinante também para a superação da desigualdade de gênero) - é permeado por dinâmicas de interações sociais que favorecem homens em detrimento de mulheres. Sabemos que a marginalidade das mulheres na vida política é estrutural: as relações sociais são baseadas numa noção de cidadania que não foi pensada, criada e articulada para mulheres, as deixam à margem, como indivíduos não capazes dela (Saraceno, 1995). Ainda que a sociedade tenha avançado e reconhecido muitas pautas feministas, como o direito ao voto e as cotas para a carreira política e sindical, existem uma série de questionamentos sobre como se dá a sua participação (ou presença) nesses espaços.
Na comunicação passamos por Cicilia Peruzzo (1998) para refletir sobre participação, ela analisou o tema a partir dos movimentos populares. Seu estudo faz menção à Pedro Demo que sustenta a participação como uma conquista, “Não é concessão, é sobrevivência. A participação precisa ser construída, forçada, refeita e recriada” (Demo apud Peruzzo, 1998 p. 75). A visão de Demo contempla a perspectiva feminista, visto que muitos espaços políticos foram constituídos ou institucionalizados com muitas lutas, vide o voto e as cotas para candidaturas politicas e presença sindical. A grande contribuição de Peruzzo em seus estudos foi perceber que a participação se dá por níveis (gradação: maior ou menor) e modalidades (mensagens, produção de mensagens, produção de programas). Neste sentido, quanto maior é o impacto da ação individual no coletivo, maior é o nível de participação dos sujeitos naquela realidade. Apesar da ampliação do acesso das mulheres em entidades sindicais, a inquietação colocada é: em que medida a simples presença feminina impacta essa realidade? Ou, ainda, esta participação está acontecendo em níveis satisfatórios? Se esta participação é medida por níveis e se um parâmetro importante é o impacto que estas causam naquela realidade, o debate deve superar a presença ou não das mulheres nessas organizações. Após a presenca, qual a liberdade que ela tem para dialogar com os outros atores sociais nesse contexto? As interações sociais e a cultura interna desses movimentos sociais estão preocupadas em ampliar o nível da participação das mulheres em seus canais de comunicação e de debate? As investigações sobre a comunicação popular implicam a necessidade de a teoria abarcar os processos no contexto mais amplo em que se realizam, baseados não apenas em índices quantitativos, mas também qualitativos, pensando, para além da presença, um espaço que favoreça a fala e as pautas femininas, tendo em vista que estruturalmente somos socialmente criadas com pouco estímulos à vida política.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)