O público brasileiro destaca-se como um dos maiores consumidores de cultura pop no mundo, com uma movimentação estimada de cerca de U$ 70 bilhões em 2018 (OMELETE COMPANY, 2016). Somos o quinto país que mais consome animes (PRADO, 2024), estamos acima da média global de consumo de música (ROLLING STONES, 2023), sediamos a maior Comic Con do mundo, e 93% da população assiste a séries (TELA VIVA, 2022), com quase metade dos brasileiros (49%) dedicando entre duas e quatro horas diárias a essa atividade (SPLASH, 2024). Essa intensa demanda faz do Brasil um mercado estratégico para turnês globais, tapetes vermelhos e coletivas de imprensa internacionais.
Contudo, enquanto a demanda é robusta, a oferta cultural brasileira enfrenta desafios. A produção cultural no país tem sido historicamente dominada por conglomerados midiáticos que limitam a diversidade e sufocam a produção independente. Até recentemente, a cultura pop nacional estava majoritariamente restrita a telenovelas e suas trilhas sonoras. Somente com investimentos de empresas internacionais, como Netflix e Amazon, algumas séries nacionais de sucesso foram produzidas fora do domínio de grandes grupos midiáticos como a Globo. Porém, esses casos ainda são excepcionais, e o consumo cultural no Brasil segue voltado para o mercado internacional.
A discussão sobre políticas públicas para o incentivo e fomento à cultura, frequentemente abordada na Economia Política da Comunicação (EPC), torna-se crucial neste contexto. Entretanto, uma análise dos últimos 10 anos de estudos em EPC revela que, entre 642 publicações na principal revista e em grupos de trabalho do subcampo no Brasil, apenas 10 abordaram a cultura pop como tema ou objeto de estudo (AMADO, 2022). Esse fato pode ser explicado pela forte influência da crítica frankfurtiana, especialmente adorniana, ainda presente nessa linha teórica.
Este trabalho busca preencher essa lacuna ao analisar recentes políticas públicas do governo do Estado de São Paulo voltadas para a cultura pop. Nos últimos cinco anos, a Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas de SP tem investido em iniciativas voltados ao consumo pop, como o fomento à PerifaCon, a inclusão do Dia do Orgulho Nerd no calendário oficial paulista e, em 2024, o projeto Fábrica de Games, que visa à formação de jovens no desenvolvimento de jogos digitais, além de um edital inédito destinado à produção de cultura pop no Estado.
Com base no referencial teórico de Cabral e Cabral (2021), este estudo investiga, à luz da crítica da EPC: (1) os incentivos políticos e econômicos que motivam esses investimentos; (2) a importância dessas iniciativas para a diversidade cultural e (3) o entendimento do conceito de cultura pop pela Secretaria. A investigação preliminar, fundamentada em entrevistas e materiais disponibilizados à imprensa, sugere que esses projetos buscam aproximar a população jovem e capitalizar o retorno lucrativo desses setores. Observa-se um impacto positivo em termos de democratização do acesso à cultura, diversidade da produção e valorização da cultura nacional. Contudo, verifica-se que o conceito de cultura pop adotado pela Secretaria é restrito à cultura geek/nerd estereotipada, não abrangendo todas as possibilidades que a cultura pop pode oferecer.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)