A comunicação do EZLN, conhecido movimento guerrilheiro de maioria indígena com base no sul do México, é marcada pela utilização de palavras e símbolos que remetem à essência indígena e revolucionária do movimento, mantendo assim a sua identidade. Desde a Revolução de 1994, o EZLN resiste às influências e reformas neoliberais, especialmente vindas dos EUA e impostas pelo governo do México após os acordos do NAFTA, mas também expressa, com suas próprias palavras publicadas em jornais, produções visuais e comunicados oficiais, as influências que marcaram o movimento desde o seu início nas selvas mexicanas (Arellano & Oliveira, 2002; Löwy, 1990; Le Bot, 1997). Entende-se que a comunicação, para o EZLN, é também uma parte importante da luta pela autonomia e resistência dos povos indígenas e pelos ideais do movimento contra as históricas agressões do governo mexicano, especialmente no campo subjetivo, como colocado por Linares (2008).
Como colocado por Baschet (2014, p. 54), a oposição do EZLN frente aos ordenamentos políticos tradicionais e as ordens vindas de cima colocam o movimento em uma posição difícil quanto à inserção em meios de comunicação tradicionalmente dominados pelos interesses hegemônicos. Sendo assim, o problema de pesquisa se torna claro quando se questiona ‘A partir de quais meios e de que forma o EZLN atua para, através dos diversos meios de comunicação, demonstrar seus ideais e fortalecer a identidade e possibilidades políticas do movimento?’ e, além disso, pretende-se averiguar se a guerrilha manteve atividade constante em termos de comunicação durante o período de 2015 a 2023.
A pesquisa conta com os objetivos específicos de definir as características da comunicação do EZLN no período analisado. Utiliza-se, aqui, o marco teórico da metodologia de Estudos Culturais como lente de análise para abordar a identidade e manifestação cultural, sendo a cultura um objeto de estudo dinâmico com uma variedade de experiências materiais e subjetivas (Williams, 1992) que moldam a representação e comunicação de determinado grupo. Ainda, por se tratar de um movimento social e revolucionário importante na luta ambientalista e anticapitalista do México e América Latina, entende-se como necessária a análise do discurso como transformador e, ao mesmo tempo, resultado da realidade material (Fairclough, 2001). Em outras palavras, a pesquisa se mantém atenta às variações do discurso enquanto reflexo de mudanças sociais e perspectivas de futuro, não ignorando o caminho reverso desse encadeamento.
Espera-se obter, a partir da pesquisa, uma atualização quanto ao modus operandi comunicacional do EZLN nos anos recentes e complementar esse campo de estudo, aproveitando as linhas e contribuições de outros autores sobre o tema da comunicação no EZLN e sua construção política, como Crepaldi (2006) e Fernandéz (2003), e abordando as diversas nuances presentes no EZLN especificamente e na construção da identidade de um movimento social de forma geral, assim como Hall (2005) e Ortiz (1997).
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)