BREVE REFLEXÃO SOBRE COMO AS PLATAFORMAS AFETAM OS DIREITOS FUNDAMENTAIS: UM OLHAR PARA O CHAMADO RACISMO ALGORÍTMICO

  • Autor
  • Joanne Santos Mota
  • Resumo
  • A transformação social em curso, impulsionada pelas novas tecnologias e pela arquitetura do movimento histórico, revela de maneira objetiva o processo de evolução da produção e reprodução cultural, material e social, que remodela as estruturas, fragiliza regras institucionais, escancara desigualdades que, hoje, são mascaradas por um véu de avanço e modernidade. Essa conjuntura deixa claro a importância de se entender como as mudanças políticas, culturais e tecnológicas influenciam, por um lado, o desenvolvimento e acesso a direitos fundamentais e, por outro, aprofundam lógicas sociais historicamente institucionalizadas. Desse modo, o presente trabalho objetiva fazer uma breve reflexão sobre como a atual reestruturação tecnológica influencia o mundo da vida, amplia o fosso social e aprofunda violências estruturais sob a bandeira do livre acesso e da liberdade de quem a utiliza as chamadas novas tecnologias.

    Ao analisar os efeitos do avanço tecnológico e a chamada era da economia de plataforma, Shoshana Zuboff (2018) destacou que esse movimento de mudança, impulsionado pelo Big Data[1], não só revelou desigualdades, como demonstrou uma lógica de acumulação a qual a autora chamou de “Capitalismo de Vigilância”, um fenômeno que objetiva transformar comportamentos de maneira a garantir a potencialização do lucro e o controle daqueles que detêm o poder do mercado.

    Para Zuboff, essa exploração e a gigantesca lucratividade em escala mundial se institucionalizam, no interior das organizações, por meio de uma integração empresarial, monitoramento, regramentos internos, termos de uso, forças de trabalho móveis e temporárias, sistemas de reputação e abordagens de marketing para diferentes configurações de consumidores. 

    Na mesma linha, Morozov (2018) defende que se é verdade que o avanço tecnológico permitiu ganhos sociais importantes, também é verdade que ele garantiu a uma minoria ter acesso a uma grande e diversificada quantidade de informações. Com base em cliques e curtidas, os algoritmos desenvolvem categorias e segmentos, nos quais proprietários e desenvolvedores das redes sociais possuem domínio dessas informações para que seus anunciantes, sob um fantasmagórico discurso da defesa da liberdade e de uma ideia de empoderamento, consigam atuar oferecendo produtos e mercadorias direcionadas aos usuários.

    Por essa lógica, desde que os dados se tornaram um novo ativo para ser explorado pelo capitalismo e surgiram as chamadas plataformas digitais (SRNICEK, 2022, pág. 49) também vimos avançar uma onda de violações de direitos fundamentais dentro e fora da rede. E, cada vez mais, aparecem denúncias – como veremos no trabalho - de casos sobre o uso das novas tecnologias para fins escusos, violações e violências no ambiente digital que sustentam espirais e estruturas históricas que se enraizaram em nossa sociedade como é o caso do racismo.

    [1] O big data é constituído pela captura de small data, das ações e discursos, mediados por computador, de indivíduos no desenrolar da vida prática. Nada é trivial ou efêmero para esta colheita: as curtidas dos Facebook, as buscas do Google, e-mails, textos, fotos, músicas e vídeos, localizações, padrões de comunicação, redes, compras, movimentos, cliques, palavras com erros ortográficos, visualizações de páginas e muito mais. (ZUBOFF, P. 34. 2015).

     

  • Palavras-chave
  • Capitalismo de Vigilância, internet, racismo, economia de plataforma, letramento digital
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT7 - Estudos Críticos em Ciência da Informação
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