RESUMO
O termo colonialismo digital foi cunhado por Casati (2013). A expressão colonialismo de dados foi empregada pela primeira vez por Tatcher et al. (2016). Desde então, a adoção de perspectivas decoloniais em estudos sobre tecnologias e sobre dados vem crescendo (Couldry, Mejias, 2021).
Diante desse debate, o objetivo deste trabalho é analisar a abordagem do colonialismo de dados proposta por Couldry e Mejias (2019a, 2019b, 2021), por meio de uma perspectiva fundada na crítica da economia política (Marx, 2014, 2017, 2018).
Nota-se que Couldry e Mejias (2019a, 2019b, 2021) adotam o termo valor sem definir o que essa noção efetivamente representa e sequer distinguem valor e preço. Além disso, ao excluírem do seu campo de análise os diversos tipos de trabalho humano envolvidos nas plataformas digitais, Couldry e Mejias não distinguem os processos de criação de valor e de transferência de valor. Assim, no plano macroeconômico, acabam por não diferenciar os agentes econômicos que criam riqueza e os agentes que enriquecem por meio da transferência da riqueza criada alhures (Marques, 2018, 2023).
Ao propor um caminho para superação do colonialismo de dados, Couldry e Mejias (2019a, 2019b, 2021) evocam o pensamento de Quijano (1992), sociólogo peruano que propôs a descolonização epistemológica, que fundaria as bases de uma nova racionalidade. Por meio dela, apontava Quijano, a modernidade europeia, cosmovisão específica de uma etnia particular, deixaria de ser uma racionalidade universal, abrindo espaço para uma nova noção de totalidade, heterogênea, diversa e aberta ao outro.
Nesses argumentos de Couldry e Mejias reside outra fragilidade da teoria do colonialismo de dados que eles defendem. Ao supor que uma nova racionalidade seria, por si só, capaz de promover a superação do colonialismo de dados, os autores acabam caindo nas armadilhas do idealismo denunciado por Marx e Engels. Afinal, o que move a história da humanidade e as transformações da sociabilidade humana não são as ideias ou a razão. Na verdade, o que ocorre é exatamente o contrário, pois ideias dominantes são sempre a expressão da dominação de uma classe. Nos termos de Marx e Engels, “as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante (2007, p. 47).
Assim, crer que uma racionalidade possa ser o principal catalizador da emancipação humana representa uma perspectiva idealista, análoga a ilusão dos iluministas europeus que acreditavam que o conhecimento e a razão forjariam um mundo melhor, menos desigual, mais fraterno e livre. Essa ilusão foi assim sintetizada por Althusser: “basta denunciar as desrazões para que elas cedam, e dizer a razão para que ela vença” (2015, p. 69). Esse tipo de solução equivocada é similar a que Zuboff (2020) apresenta para superar os desvios éticos do capitalismo de vigilância, ou seja, somos conclamados a usar a opinião pública para promover nossas melhores realizações morais e políticas e, assim, criar um capitalismo digital inclusivo e democrático (Marques, 2022, 2023).
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