No período pandêmico, aspectos relevantes da vida de crianças e adolescentes, como acesso à escola, interações sociais e diversão, passaram a ser mediados por dispositivos conectados à internet por meio de aplicativos disponibilizados por grandes plataformas de tecnologia, como Google, Microsoft e Meta, cujo objetivo principal é o lucro, a partir do uso de sofisticadas técnicas de captura, armazenamento e análise de dados (ZUBOFF, 2020). O resultado foi um aumento do tempo de tela e a antecipação etária do primeiro acesso à internet para antes dos seis anos (CGI.br, 2023). Nesse sentido, mediar a avalanche informacional (e desinformacional) tornou-se tarefa ainda mais desafiadora.
Passado o período de emergência sanitária, grupos de mães e pais em diferentes países passaram a se mobilizar, paradoxalmente também mediados pela tecnologia, para defender a postergação do uso do smartphone por seus filhos e filhas, já que controlar tempo e conteúdo depois que a criança ganha seu próprio celular – um dispositivo portátil e ubiquo - é tarefa laboriosa (FIGUEIREDO, 2021). Movimentos como o norte americano Wait Until 8th (Espere até o 8º ano, tradução nossa), o britânico Smartphone Free Childhood (Infância livre de Celular), o catalão Adolescència sense mòbil (Adolescência sem celular, tradução nossa) e o brasileiro Movimento Desconecta são exemplos de iniciativas que surgiram a partir dos grupos de WhatsApp em que os responsáveis buscam se amparar na decisão de postergar para depois dos 13, 14 e até 16 anos a entrega do primeiro smartphone. A ideia é que, juntos, mães e pais fujam da pressão social e da mesma frase, dita em diversas línguas: "todo mundo tem, menos eu".
Os grupos descrevem suas motivações com base em alertas feitos por estudos médicos de diversas áreas (EISENSTEIN, 2023; CRISPIM et al, 2022; MURTHY, 2023), bem como de organismos internacionais (UNESCO, 2023), que apontam que uso precoce e excessivo é potencialmente prejudicial para a saúde mental, a educação e a socialização das crianças. Uma das maiores preocupações de especialistas e responsáveis diz respeito ao fato de que parte relevante do uso da internet está voltado para o deslizar dos dedos na infinita barra de rolagens das redes sociais, ambiente descrito pelas próprias plataformas como de uso recomendado para maiores de 13 anos. A preservação da infância é também preconizada pelos pais e mães que advogam pela postergação da entrega do primeiro celular numa espécie de acordo coletivo.
Parte de uma pesquisa de doutoramento em andamento, este é trabalho exploratório tem por objetivo mapear algumas estratégias usadas por responsáveis para mediar o uso do smartphone por seus filhos. Abordamos aqui a ação mediadora como apresenta Gomes (2020), associada à mediação consciente e imbuída de suas dimensões dialógica, estética, formativa, ética e política. Esta mediação é conduzida de mãos dadas à competência crítica em informação, direcionada à emancipação social, colocando-se como um dos possíveis caminhos para a práxis transformadora (Bezerra, 2019). Dessa forma, almeja-se que a criança ganhe, de forma paulatina, as competências (críticas) necessárias para fazer uso ético, seguro e saudável das tecnologias de informação e comunicação.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)