O dataísmo, uma filosofia ou religião emergente que vê o universo como um fluxo de dados, coloca os dados no centro de tudo, determinando o valor de qualquer coisa de acordo com o processamento algoritmo das informações geradas pelo big data. Impulsionado pelas Big Techs, o dataísmo se tornou um paradigma dominante, levantando questões sobre seu impacto na vida humana. Este estudo explora o dataísmo através da lente da alienação, conceito desenvolvido por Karl Marx, e investiga o papel da Ciência da Informação nesse contexto.
A pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica que combina obras clássicas e contemporâneas, como "O Capital" de Marx (1867) e também seus "Manuscritos Econômico-Filosóficos" (1844), onde o dataísmo pode ser visto como uma forma de alienação no capitalismo digital. Trabalhos mais recentes, como os de Shoshana Zuboff (2019), destacam como o capitalismo de vigilância transforma a experiência humana em matéria-prima para coleta de dados comportamentais, reduzindo o indivíduo a um conjunto de dados a ser explorado.
No contexto da Ciência da Informação, autores como Rafael Capurro (2003) e Tefko Saracevic (1999) enfatizam a necessidade de uma postura crítica e reflexiva em relação ao uso da informação e dos dados, consideramos que isso se torna ainda mais urgente no contexto do capitalismo digital. Elmborg (2006) traz o conceito de competência crítica em informação para esse cenário e a dupla Beloni e Bezerra (2019) destaca que o fenômeno do big data traz novos desafios éticos para a coleta e análise de grandes volumes de dados, ressaltando a importância de relacionar os estudos em ética e competência crítica em informação às pesquisas sobre big data na Ciência da Informação.
Diante disso, entende-se que dimensão humana da informação precisa ser valorizada, buscando alternativas que promovam uma visão humanizada e crítica dos dados. Isso inclui defender a autonomia individual e o direito à privacidade, elementos cruciais para combater a desumanização inerente ao dataísmo. André Lemos (2004) e Manuel Castells (2000) também destacam a importância de compreender as novas dinâmicas sociais e tecnológicas da sociedade em rede, promovendo uma adaptação da Ciência da Informação que contribua para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Argumentos trazidos há 20 anos que foram e seguem sendo confirmados e considerados extremamente necessários
Em suma, o dataísmo, ao transformar a experiência humana em dados, configura-se como uma nova forma de alienação no capitalismo digital. A Ciência da Informação tem o desafio de assumir uma postura crítica, questionando o papel das grandes empresas de tecnologia, as Big Techs, e a prevalência dos dados sobre outros aspectos da vida humana. A valorização da dimensão humana da informação e a proteção da autonomia individual são essenciais para mitigar os efeitos desumanizadores do dataísmo. A adaptação às novas dinâmicas sociais e tecnológicas é crucial para promover uma visão humanizada da informação, contribuindo para a construção de uma sociedade mais equitativa.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)