COMUNICAÇÃO SINDICAL EM TEMPOS DE DOMINÂNCIA FINANCEIRA: SINDICATOS GERAIS ANTE A FRAGMENTAÇÃO SOCIAL, O GERENCIALISMO E A AUTORREFERECIALIDADE

  • Autor
  • Mônica Machado Carneiro
  • Resumo
  • Este artigo reflete a experiência de atuação na organização política de servidores públicos federais, no tocante ao processo de negociação coletiva que se desenrolou durante o ano de 2024. A partir da metodologia da observação participante, buscou-se avaliar a relação entre a materialidade do capitalismo financeiro e o contexto de fragmentação e disputa por orçamento que se estabeleceu entre trabalhadores ocupantes de cargos públicos em distintas áreas. Entre os instrumentos de coleta de dados analisados estão os relatórios produzidos no âmbito das reuniões de negociação salarial travadas com o governo; as notícias sobre os processos de negociação e os textos avaliativos publicados nos canais de comunicação oficiais da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), entidade em que a autora atua como dirigente, além dos comentários dos servidores que compõem a base da Confederação, em reuniões presenciais e virtuais, e nas mídias digitais da entidade. Observou-se, por parte dos trabalhadores, uma ampla resistência à comunicação sindical classista, acompanhada de uma pulverização de entidades específicas de caráter patrimonialista. Nas reuniões e mobilizações trabalhistas, discursos calcados em autoafirmação comparativa por distintividade profissional, prevalência de demandas por reconhecimento com qualificadores gerencialistas e opção por um léxico empresarial na condução das relações de trabalho e na organização das reivindicações trabalhistas compuseram o eixo geral das discussões. Nesse cenário, a necessidade de traduzir a política de comunicação da entidade em estímulo à formação política, ao pertencimento de classe, à solidariedade recíproca e entre gerações transformou-se em preocupação precípua de parte da direção da Confederação. O envelhecimento das direções sindicais também demonstrou urgência na adaptação da mensagem às demandas e condições materiais e simbólicas atuais. Nesse contexto, o programa de transição (TRÓTSKI, 2003), que busca estabelecer uma ponte entre um “sistema de reivindicações transitórias” e a luta pelo poder da classe trabalhadora, na busca por “simplificar um conjunto de questões complexas que implicariam uma reorganização completa da sociedade sobre novas bases” (2003, p. 13), segue como um guia imprescindível. No entanto, um contexto de elevada autorreferencialidade, caracterizado tanto pela ascensão de um processo de plataformização da esfera pública, composto por “câmaras de eco fragmentadas e que giram em torno de si mesmas” (HABERMAS, 2023, p. 61), quanto pela construção histórica de uma forma-sujeito concorrencial baseada no desempenho e na liberdade coercitiva, preconizam uma substancial fragmentação do tecido social e, portanto, das formas históricas de organização para combater a dominação de classe. Nesse cenário, o artigo buscou situar os fenômenos organizacionais mencionados como produtos intrincados de processos sociais, culturais, psíquicos e institucionais. Também buscou avaliar criticamente a dimensão política da invasão de valores empresariais em todos os âmbitos da vida social, a partir da mobilização e articulação de conceitos materialistas e simbólicos. Os resultados mais imediatos indicam que os empecilhos para a massificação da comunicação sindical são de ordem estrutural, de forma que o convencimento político almejado não se resolve por mera atualização e “modernização” performativa, mas pela continuidade do método de organização e discussão, em pequena escala, por “local” de trabalho.

  • Palavras-chave
  • Comunicação Sindical, Dominância Financeira, Fragmentação Social.
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
  • GT2 - Comunicação popular, alternativa e comunitária
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