A partir de uma genealogia da utilização dos termos e dos debates acerca de políticas identitárias, bem como suas oposições no debate público -partindo desde uma crítica anti-woke do identitarismo até as políticas de identidade da direita e suas tendências moralistas- pretendemos abordar os usos políticos e ganhos econômicos da representação política de identidades sociais minoritárias em posições de destaque na mídia tradicional.
O crescimento recente de discursos que se apropriam de pautas identitárias no ecossistema mídiatico, correlato à crescente demanda social por maior ??representatividade, diante da histórica sub-representação de grupos sociais minoritários nas produções de entretenimento bem como nos segmentos informativos, é o tema deste trabalho. A demanda por representatividade por parte dos diferentes públicos formados por membros de grupos sociais minoritários é "atendida", na mídia corporativa, pelo uso ambivalente de estereótipos sobre nos modelos identificatórios do repertório midiático. Estratégias de cooptação da atenção desses públicos, tais como pinkwashing, queer baiting, tokenização, etc., definidas no âmbito da produção, extrapolam os textos midiáticos e saturam o ecossistema midiático, fomentando e ao mesmo tempo retroalimentando-se dos debates em torno de posições sectárias, associadas à categorias identitárias essencialistas. O termo “identitarismo” tem sido amplamente usado nos debates em torno a presença política de representantes de minorias raciais, sexuais e de gênero; assumindo sentidos contraditórios conforme a posição política do falante, quase sempre usado como termo de acusação: à esquerda, na denúncia das tentativas de divisão dos grupos sociais oprimidos; à direita, na defesa da manutenção de sua subalternidade.
A proposta é discutir alguns problemas teóricos que advêm do uso histórico das noções de identidade e representação, os desafios práticos que incidem na luta contra as variadas formas de opressão e o papel dos conglomerados midiáticos na despolitização das reivindicações políticas contemporâneas.
A luta por reconhecimento tornou-se, no final do século XX, a forma paradigmática de conflito político (FRASER, 2006). Nas demandas por "reconhecimento da diferença", a identidade de grupo suplanta o interesse de classe como meio principal da mobilização política. (FRASER, 2006: 231) Os teóricos do reconhecimento atribuem primazia ao sentimento de injustiça individual sobre as desigualdades estruturais efetivas, além de ignorar a desigualdade que não é percebida como injustiça, bem como as formas de dominação simbólica que se caracterizam pela inconsciência da relação de poder por parte dos grupos dominados.
A historicidade da categoria contemporânea de identidade (HAIDER, 2019), bem como os múltiplos sentidos associados ao conceito de representação (PITKIN, 2006) e presença política (PHILLIPS, 2001) contribuem para a discussão. O artigo conclui que a política identitária, elemento central na luta política emancipatória e revolucionária, quando entendida como demanda individual por reconhecimento, enfraquece a possibilidade de auto-organização coletiva.
Essa crítica parte da ideia de que ao se utilizar de indivíduos pertencentes a grupos minoritários para se opor a discursos racistas, homofóbicos e machistas, a mídia se exime de combater ativamente os discursos problemáticos, colocando ambos em um lugar de equivalência. Tomando como exemplo o caso do programa Estudio i da Globonews e a atuação da jornalista Flávia Oliveira.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comitê Científico
Anderson David Gomes dos Santos (UFAL)
Aianne Amado Nunes da Costa (USP/UFS)
Ana Beatriz Lemos da Costa (UnB)
Arthur Coelho Bezerra (IBICT/UFRJ)
Carlos Eduardo Franciscato (UFS)
Carlos Peres de Figueiredo Sobrinho (UFS)
César Ricardo Siqueira Bolaño (UFS)
Chalini Torquato Gonçalves de Barros (UFRJ)
Eloy Santos Vieira (UFS)
Fernando José Reis de Oliveira (UESC)
Florisvaldo Silva Rocha (UFS)
Helena Martins do Rêgo Barreto (UFC/UFS)
Janaine Sibelle Freires Aires (UFRN)
Manoel Dourado Bastos (UEL)
Marcelo Rangel Lima (UFS)
Rafaela Martins de Souza (Universidade de Coimbra)
Renata Barreto Malta (UFS)
Rodrigo Moreno Marques (UFMG)
Rozinaldo Antonio Miani (UEL)
Verlane Aragão Santos (UFS)