Uma interpretação da Big Data a partir da teoria do valor

  • Autor
  • Mariane Roccelo
  • Resumo
  • O objetivo deste resumo é analisar a Big Data a partir da teoria do valor de Marx. O texto argumenta que os dados em massa extraídos pelas Big Techs têm características próprias relacionadas às formas como são coletados, armazenados e vendidos, que trazem um grau de complexidade maior para esta mercadoria. O texto propõe que parte do valor da Big Data que está sob controle do setor privado é gerado pelos usuários de internet. Empresas como a OpenAI, a Meta e a Microsoft extraem e lucram utilizando dados são frutos do trabalho humano realizado por parte dos usuários, como notícias integrais de veículos jornalísticos, produções audiovisuais, livros de ficção e não-ficção, pesquisas acadêmicas, pinturas, entre outras. Este texto propõe que os dados que formam a Big Data que está sob controle das Big Techs devem ser compreendidos como mercadorias valiosas para o desenvolvimento tecnológico desse setor, e assumem um caráter duplo: por um lado, parte das dados coletadas são brutos e produzidos pelos usuários de forma passiva, por outro, a Big Data também é formada por dados complexos que podem ser caracterizados como roubo de propriedade intelectual. O resumo faz um breve levantamento do papel dos dados e da Big Data no crescimento da indústria de ponta e analisa esta relação a partir da leitura do primeiro volume de O Capital (2015).

    Estes dados complexos desempenham um papel central na indústria de ponta porque são a base sobre a qual tecnologias como inteligência artificial generativa (IAG), treinamento de aprendizado de máquina e otimização algorítmica são construídas. Esse tipo de tecnologia só pôde se desenvolver após a possibilidade de coleta de dados em massa por parte do setor privado. Em dezembro de 2023, o jornal New York Times abriu um processo contra a OpenAI e a Microsoft acusando as empresas de roubo de propriedade intelectual. O veículo provou que as informações do jornal eram utilizadas para alimentar os algoritmos de Inteligência Artificial Generativa do ChatGPT, o qual reproduzia integralmente tais informações sem autorização do veículo, lucrando a partir do roubo do trabalho dos jornalistas. Acusações semelhantes também são feitas por parte do setor cultural, dos usuários de plataformas, como o Instagram e o Twitter, entre outros grupos.

    Como explica Marx, a grandeza de valor de uma mercadoria está relacionada ao tempo e força produtiva de trabalho necessários para sua produção. A Big Data que está sob poder do setor privado engloba dados que são fruto do trabalho humano acumulado (Marx, 2013), gerado a partir do uso das tecnologias digitais e armazenados sem autorização de seus criadores. Por fim, é necessário destacar que são as estruturas dessa indústria que permite afirmar que uma parcela do valor da Big Data é gerada pelos usuários. Apenas o manuseio das ferramentas digitais não determinaria uma relação de exploração da mão de obra, é somente quando essa extração corresponde a um processo de roubo de propriedade intelectual que a geração de valor por parte dos usuários entra em jogo.

     

  • Palavras-chave
  • Internet; Valor; Big Techs; Inteligência Artificial
  • Modalidade
  • Comunicação oral
  • Área Temática
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