Introdução
O ensino médico no Brasil, em que pese haver passado por alterações ao longo de décadas, permanece hospitalocêntrico, atribuindo maior valor à doença, em detrimento da pessoa. A recente publicação da Portaria GM/MS n° 39.493, de 10 de abril de 2024, a qual institui a nova política de cofinanciamento do piso da Atenção Primária, demonstra a importância do fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família para a ampliação do acesso. Paralelamente a isso, é de suma importância que os estágios em saúde coletiva no ambiente universitário tenham na preceptoria ou coordenação um Médico de Família e Comunidade para que, futuros profissionais ocupantes dos novos cargos criados pela portaria estejam capacitados, pois grande parte das equipes possuem médicos não especialistas em Medicina de Família Comunidade, advindos de um ensino focado na doença, desconhecendo o método centrado na pessoa, bem como a importância da longitudinalidade.
Objetivo
Esse relato objetiva apresentar a experiência acadêmica em um estágio extracurricular junto a uma Unidade Básica de Saúde, tendo como preceptores, Médicos de Família e Comunidade.
Descrição da Experiência
Durante dois anos, acadêmicos da Liga de Medicina de Família e Comunidade estagiaram em uma Unidade Básica de Saúde na qual havia duas equipes da ESF, cujos profissionais médicos eram especialistas. Ao primeiro contato, no interior dos consultórios, foi possível observar a diferente disposição dos mobiliários, onde médico e paciente permaneciam estrategicamente posicionados, e, sem que a mesa fosse uma barreira, nascia uma relação baseada no vínculo. Outro importante ponto observado junto aos pacientes, foi a consolidação da confiança, visivelmente estabelecida através da longitudinalidade, pois ambos profissionais encontravam-se naquela UBS há quase uma década. Durante as consultas foi possível compreender como a abordagem centrada na pessoa, junto à decisão compartilhada estimulam a adesão ao tratamento, diferente das especialidades focais, onde o modelo verticalizado de atendimento tende a levar o paciente ao abandono da terapêutica proposta. Importante destacar, ainda, o trabalho interdisciplinar em equipe, onde, enfermagem, agentes comunitários, dentistas, psicólogos e outros profissionais constantemente em comunicação, se alinhavam para a coordenação do cuidado, deixando de lado as próprias diferenças em prol daquela comunidade.
Conclusão
O estágio evidenciou a importância da atuação do especialista Médico de Família e Comunidade no contexto dos estágios práticos-universitários a fim de proporcionar a formação e a capacitação dos futuros ocupantes dos cargos na Atenção Primária à Saúde.