Introdução
Atualmente, são vinte e nove as Práticas Integrativas e Complementares (PICs) reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que 90% dos serviços que as ofertam estão na Atenção Primária à Saúde (APS). Tais práticas possibilitam uma abordagem integral à saúde, por ampliar o olhar sobre o processo saúde-doença para além dos limites do paradigma biomédico. No entanto, ainda são escassos os investimentos em pesquisa em PICs, assim como a divulgação das evidências científicas disponíveis até o momento.
Objetivo
Avaliar qual é o respaldo científico para o emprego de PICs no âmbito da APS.
Metodologia
Revisão narrativa a partir das recomendações de sumários sintetizados: UpTodate, Dynamed e BMJ BestPractice.
Resultados
Musicoterapia parece melhorar sintomas e qualidade de vida na doença de Parkinson, e levar à discreta melhora cognitiva em alguns casos de doença de Alzheimer. A meditação pela técnica mindfulness pode reduzir sintomas em adultos com transtorno de ansiedade generalizada (TAG), bem como prevenir recorrência de episódios depressivos. A acupuntura pode acarretar melhora em diversos tipos de dor crônica, podendo ser considerada como adjuvante no manejo da fibromialgia e como medida profilática para a cefaleia tensional. Yoga, pilates e tai chi são práticas seguras que podem ser ofertadas a pacientes com lombalgia crônica; há evidências fracas de que essas modalidades melhorem o perfil metabólico de pacientes diabéticos. O tai chi pode ser recomendado como medida de promoção de saúde para a população geriátrica; há estudos relacionando-o à redução do risco de quedas. O yoga apresenta diversos benefícios de curto prazo para mulheres em tratamento para câncer de mama; em pacientes com DPOC, pode diminuir a dispneia e melhorar a qualidade de vida. O óleo de lavanda reduz sintomas em pacientes com TAG. Quanto à homeopatia, as evidências que apontam benefícios no manejo da asma e rinite alérgica são limitadas; parece não haver benefício no manejo de infecção de vias aéreas superiores em crianças. Há evidências insuficientes para respaldar o uso de fitoterápicos para sintomas climatéricos. O fitoterápico Hypericum parece melhorar sintomas de depressão, mas as interações medicamentosas são significativas.
Conclusões
Há evidências científicas respaldando o emprego de PICs no manejo de diversas situações clínicas frequentes na APS. Várias modalidades são cabíveis no dia-a-dia da Atenção Primária, principalmente as mais seguras e acessíveis. Os médicos de família e comunidade podem promover maior acesso e conhecimento sobre o assunto por meio de educação em saúde e construção de grupos operativos.