INTRODUÇÃO: Ao ser inserido na Atenção Primária à Saúde (APS), o interno de Medicina de Família e Comunidade (MFC) passa por um treinamento para a resolução dos problemas mais comuns da coletividade, o que pode contribuir para a sua formação acadêmica. OBJETIVO: Avaliar o desenvolvimento de habilidades em anamnese e sua associação com demandas comunitárias durante o internato de MFC, entre estudantes de Medicina. METODOLOGIA: Tratou-se de um estudo transversal, realizado em uma Universidade federal mineira, ao final do internato de MFC. Os discentes responderam a um questionário semi-estruturado, autoaplicado, sobre desenvolvimento de habilidade de anamnese e participação em demandas comunitárias (pessoas infectadas com doenças negligenciadas, COVID-19, vítimas de violências, HIV/AIDS, sexualidade e identidade de gênero) durante o internato em MFC. Quanto ao desenvolvimento da habilidade, os estudantes atribuíram notas a si mesmos por meio de uma reflexão retrospectiva, comparando antes e após o curso do internato. Quanto à participação nas demandas, os estudantes responderam sim ou não. A associação foi analisada por meio do teste exato de Fisher, com valores de p<0,05 fixados como significativos. RESULTADOS: Entre os 86 entrevistados, 81(94,2%) referiram melhora de sua anamnese com a realização do internato. Todos os estudantes atenderam pessoas suspeitas ou confirmadas para as doenças negligenciadas endêmicas no território, principalmente sífilis (82,6%), tuberculose (72,1%) e hanseníase (43,0%). Ademais, 89,5% atenderam casos suspeitos ou confirmados de COVID-19. Houve participação de 74,4% dos internos em consultas, supervisionadas por médicos, com pacientes em situação de violência interpessoal, principalmente violência psicológica (58,1%), física (37,2%) e sexual (34,9%). Mais da metade dos entrevistados (59,3%) atenderam indivíduos vivendo com HIV/AIDS e 27,9% realizaram consultas voltadas à sexualidade ou identidade de gênero. A progressão em habilidade de anamnese foi associada ao atendimento de pacientes vivendo com HIV/AIDS (p<0,05). CONCLUSÕES: Houve desenvolvimento de habilidade de anamnese durante o internato de MFC entre os estudantes. A progressão na habilidade esteve associada ao atendimento de pessoas vivendo com HIV/AIDS. Ressalta-se que esse resultado não demonstra uma relação de causa e efeito, mas aponta para a necessidade de aprofundamento da investigação dessas variáveis em outros estudos.