Introdução: A anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) são distúrbios nos padrões alimentares que causam impactos relevantes tanto na saúde física, quanto no funcionamento psicossocial. Em sua maioria, esses transtornos apresentam uma prevalência significativa entre mulheres adolescentes e adultas jovens. Os efeitos deletérios se tornam ainda mais preocupantes durante a gestação, quando há a necessidade de um minucioso cuidado do peso e dos hábitos alimentares. É crucial reconhecer que esses problemas não estão confinados a consultórios de especialistas, podendo ser encontrados, também, na prática da Atenção Primária à Saúde (APS). Objetivos: Realizar uma análise abrangente dos impactos na saúde materno-fetal resultantes da ocorrência de transtornos alimentares durante o período gestacional e da importância do cuidado continuado na APS. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados Medline/PubMed e UptoDate, de estudos publicados entre 2019 e 2023, que abordam os transtornos alimentares na gestação e avaliam os impactos desses transtornos na saúde materno-fetal, com foco na prática da APS. Resultados: Na APS, a avaliação inicial das gestantes com suspeita de distúrbios alimentares envolve histórico médico, estado mental, exame físico e exames específicos. Muitas vezes, o processo é desafiador, uma vez que as pacientes podem esconder seus comportamentos anormais, como: jejum, uso de laxantes, diuréticos, purgação e excesso de exercício. O diagnóstico segue o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e sinais de alerta incluem hiperêmese gravídica, falta de ganho de peso em duas consultas pré-natais consecutivas, IMC abaixo de 18,5 e desequilíbrios hidroeletrolíticos. Em gestantes com anorexia nervosa, houve uma maior tendência ao tabagismo, depressão, risco elevado de hemorragia pré-parto e baixo peso ao nascer. Pacientes com bulimia também apresentaram maior tabagismo, depressão e taxa mais alta de aborto induzido, além de ganho excessivo de peso e abortos espontâneos. Em relação ao TCAP, episódios depressivos eram mais frequentes, com ganho excessivo de peso e aumento do risco de abortos espontâneos. Pacientes nessas condições devem receber cuidados contínuos da equipe multiprofissional. Conclusão: O médico da APS desempenha um papel fundamental na detecção precoce, no encaminhamento adequado e no manejo integrado desses transtornos. O aconselhamento, os cuidados pré-concepcionais e o acompanhamento multidisciplinar são essenciais para garantir o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê. Portanto, é crucial que a APS esteja preparada para identificar e controlar adequadamente os distúrbios alimentares em sua prática clínica diária.