Analisando a evolução do cuidado na medicina, no século XVIII, segundo Foucault, marcou-se o início da clínica médica, época em que a ascensão do empirismo sobre a metafísica resultou em experiências confrontativas entre médico e paciente. Seguiu no século XX com o fortalecimento do paradigma biomédico, dando destaque aos sintomas e diagnósticos. E, atualmente explora a definição de saúde da OMS abrangendo bem-estar físico, mental e social. Contudo, a prática com a anamnese tradicional muitas vezes ainda é limitada, dificultando a análise do indivíduo como um todo. Tentando reduzir essa limitação, emergem ferramentas como o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), o modelo Calgary- Cambridge, a consulta em 7 passos e o registro médico centrado no problema (ReSOAP).
Este relato de experiência busca discutir a necessidade de ampliar os métodos de ensino e prática da entrevista clínica utilizados atualmente, para que a integralidade seja incluída no cuidado dos usuários na atenção primária à saúde.
O estudo foi realizado observando a preceptoria de estágio prático dos alunos das disciplinas de semiologia e Medicina de Família e Comunidade (MFC), respectivamente de quinto e oitavo períodos, junto da preceptoria da residência de MFC, na Unidade Básica de Saúde, pelo período de 6 meses.
Junto do relato de experiência, foram selecionados 10 artigos relevantes e 5 livros com fundamentos em entrevistas clínicas e MFC para o embasamento teórico. A seleção se deu de forma subjetiva através do PubMed, Lilacs e SciELO, utilizando as palavras chave “anamnese”, “entrevista clínica”, "educação médica”.
A bibliografia revela uma transição gradual entre as abordagens centradas na doença para abordagens centradas na pessoa, acompanhando a evolução observada na história do cuidado na medicina.
Acompanhando os acadêmicos, nota-se dificuldade em ir além da utilização de roteiros da anamnese tradicional, com outros modelos de entrevista. Resultando muitas vezes em dificuldades de estabelecer relações entre o exposto pelo usuário, exame físico, contexto e necessidades individuais.
No entanto, comparando os alunos que iniciaram semiologia dos mais avançados no estágio de MFC , através de estímulo, tempo e a prática com modelos diversos de entrevista, há uma evolução perceptível na fluidez, compreensão e capacidade de elaborar planos de cuidado mais integrados e centrados na pessoa.
Por fim, destaca-se a importância da exploração dos métodos de entrevista para aprimorar a relação médico-paciente, perpassando pela ruptura da exclusividade da anamnese tradicional e permitindo a formação de médicos com um olhar além da dicotomia saúde e doença.