INTRODUÇÃO: O cálculo do risco cardiovascular (RCV) - probabilidade de desenvolvimento de agravos cardiovasculares em 10 anos - apresenta-se como prevenção e promoção de saúde, principalmente nos indivíduos com hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus (DM), grupo mais sujeito a complicações dessa natureza. Nessa proposta, o Escore de Risco Global (ERG) de Framingham é o padrão-ouro, apesar da dependência de exames séricos, dificultando sua aplicação. Em contrapartida, a Organização Mundial de Saúde desenvolveu a calculadora HEARTS, que pode estimar o RCV pelo Índice de Massa Corporal (IMC), aumentando sua aplicabilidade.
OBJETIVO: Comparar a estratificação de RCV obtida pelo ERG e pela HEARTS em indivíduos diabéticos e/ou hipertensos na Atenção Primária à Saúde (APS) de São João del-Rei (MG).
METODOLOGIA:Trata-se de um estudo transversal, exploratório e epidemiológico. Coletou-se dados de usuários de dez Unidades Básicas de Saúde (UBS) da área urbana do município, com idade entre 40 e 75 anos, diagnosticados com HAS e/ou DM. Para isso, foi desenvolvido um questionário com dados gerais, clínicos e laboratoriais. Utilizou-se o coeficiente Kappa de Cohen para analisar a comparação entre as escalas e a estatística descritiva para o estudo das variáveis contínuas e categóricas. As hipóteses de associação foram testadas pelo teste Qui-quadrado (?2).
RESULTADOS: Na estratificação da amostra por ambos escores prevaleceu o risco intermediário/alto. A categoria “alto risco” predominou na HEARTS, sendo menos eficaz ao definir estratos mais elevados. O teste Qui-quadrado - no ERG - apresentou relação estatisticamente significativa entre as faixas de maior risco e as variáveis: faixa etária geriátrica (p<0,0009), mulheres hipertensas (p<0,05) e pacientes com pressão arterial elevada no momento da entrevista (0,007). HEARTS não apresentou correlação estatística significativa com nenhuma variável. O coeficiente Kappa (K) demonstrou concordância mínima entre os escores (K = 0,06).
CONCLUSÃO: Compreende-se, portanto, que o RCV é uma potente ferramenta para orientar estratégias de saúde pública, sendo importante validar escalas aplicáveis na APS. Contudo, o presente trabalho demonstra que HEARTS, ao substituir os dados séricos pelo IMC, apresentou limitações quando comparada ao ERG na amostra em questão. Ademais, enquanto a HEARTS mostrou baixo desempenho nos indivíduos com RCV acima de 20%, fornecendo uma estimativa abrandada do preditor, o ERG mostrou-se mais preciso na estratificação em estratos de maior risco. Assim, são necessários novos estudos populacionais, com maiores amostras, a fim de avaliar se o desempenho e a aplicabilidade de ambas as ferramentas mantêm as divergências observadas.