Introdução: Historicamente, a autopercepção foi tratada majoritariamente pelo viés da análise de dados qualitativos em pesquisas relacionadas à saúde de uma população ou aos sistemas de saúde. No entanto, diversos pesquisadores têm atentado nos últimos anos para a possibilidade de que a autopercepção em saúde possa ser abordada tanto quanto dado qualitativo quanto quantitativo, a depender da forma de coleta de dados e da opção metodológica da pesquisa. O uso de escalas numéricas, por exemplo, permite que dados qualitativos possam ser quantificados na análise de uma pesquisa. Objetivo: Avaliar, através de de revisão sistemática de literatura, as possibilidades de abordagem epidemiológica da autopercepção em saúde como pesquisas qualitativas e qualitativas. Metodologia: Realizada pesquisa de publicações em inglês e português das plataformas de busca Medline, Dynamed, SciELO e PubMed, utilizando dos descritores "autopercepção em saúde", "autopercepção + qualitativo", "autopercepção + quantitativo", "metodologia de pesquisa". Foram priorizadas publicações de revistas de renome em epidemiologia e aquelas publicadas nos últimos 10 anos. Discussão: Embora a autopercepção possa ser entendida como um dado qualitativo, dada a sua natureza subjetiva que engloba a forma como o indivíduo percebe suas próprias crenças, sentimentos, atitudes e compreensões sobre suas capacidades e comportamentos, é possível quantificar aspectos da autopercepção. Isso se dá por meio de questionários e escalas que convertem respostas qualitativas em quantitativas. Utilizando uma escala numérica baseada na escala Likert, pode-se solicitar aos participantes de uma pesquisa que avaliem seu conhecimento sobre temas específicos ou sua percepção de itens relacionados à própria saúde, transformando percepções subjetivas em dados quantitativos passíveis de análise estatística. Estudos sobre a problematização histórica sobre a interpretação quantitativa e qualitativa dos dados subjetivos utilizando a escala Likert concluem que testes paramétricos são uma alternativa viável para metodologias quantitativas. É rocomendado, ainda, que os autores determinem como os dados serão descritos e analizados como ponto de partida em projetos de pesquisa. Sugere-se que os autores discutam, no item de Metodologia ou em um apêndice ao projeto caso a explicação seja demasiado longa, porque eles escolheram representar e analisar seus dados desta maneira específica. Conclusão: Embora a autopercepção seja essencialmente qualitativa, os métodos de pesquisa utilizando escalas numéricas permitem a quantificação de seus aspectos para análise estatística. Considerando a autopercepção como um indicador valioso para coletar informações sobre saúde, a análise quantitativa dessa percepção emerge como crucial para o planejamento de intervenções futuras em saúde pública e para capacitação de pesquisadores em saúde.