Introdução: Envelhecer é um estágio intrínseco ao ser humano, uma fase em que ocorrem mudanças e, às vezes, necessidade de cuidado. Na modernidade, o papel do apoio é frequentemente designado à mulher, que precisa se adequar para lidar com seu novo encargo. Tal função tende a interferir na qualidade de vida dessas cuidadoras, as quais ficam suscetíveis ao desenvolvimento de quadros psicológicos. Nesse sentido, não é somente a pessoa que é afetada, toda a sua relação com o mundo pode ser prejudica, inclusive com seus filhos. Sabe-se que o estado emocional de crianças tem uma forte relação com fatores ambientais, entretanto, em muitas famílias, a saúde juvenil pode ser negligenciada frente às dificuldades do cuidador.
Objetivo: Relatar uma experiência vivida em atividade de visita domiciliar entre agosto e dezembro de 2022 e refletir sobre a questão da saúde mental das crianças filhas de cuidadores.
Descrição da experiência: A equipe realizou um acompanhamento semanal de uma família a fim de solucionar demandas levantadas pela UBS, relacionadas à relação cuidador-idoso. Nas primeiras semanas tais questões receberam atenção e notou-se melhora nessas demandas, todavia, observou-se também problemas comportamentais na filha da cuidadora -timidez excessiva, sentimento de revolta e queixas escolares. Esse cenário chamou a atenção para a existência de demandas além das iniciais, com o intuito de contemplar todas as agendas da família em um plano de cuidado integral. Diante disso, foi realizada uma conversa com a mãe, a qual relatou sentir estreitamento da sua relação com a filha após o adoecimento da avó, coincidente com o início das mudanças comportamentais da criança. A equipe, então, mediou um momento de diálogo entre as duas, com exposição dos sentimentos, estímulo a momentos de lazer e atividades em conjunto, além de referenciar a criança para o psicólogo de referência. Em poucas semanas a mãe notou melhora na comunicação da criança e no comportamento escolar.
Resultados: Houve uma reflexão sobre o impacto de ter uma pessoa domiciliada que demanda cuidado na saúde de crianças e adolescentes da família, que podem modificar o seu papel frente aos seus cuidadores, geralmente de maneira abrupta e com possíveis consequências psicológicas e que, muitas vezes, não são incluídas nos planos de cuidado.
Hipóteses: A equipe de saúde precisa se atentar para detectar as demandas familiares de todos os membros da família, incluindo os mais jovens, e trabalhar de forma multidisciplinar com profissionais da psicologia e educadores na abordagem desses casos.