Introdução: A pauta “Doenças do trabalho” surgiu em 1700 com Bernardino Ramazzini, que propôs a inclusão do questionamento sobre o ofício nas anamneses para o cuidado integral do paciente. No entanto, essa prática ainda é incomum nas consultas médicas, o que pode atrasar diagnósticos e submeter o paciente a tratamentos equivocados. A falta de entendimento dessa analogia corrobora a persistência das doenças ocupacionais e gera gastos para o indivíduo e para o SUS.
Objetivo: Abordar a relação entre adoecimento e ocupação e discorrer sobre os motivos pelos quais essa informação é negligenciada pelos médicos.
Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura constituída a partir da plataforma “Google Acadêmico”, e dos descritores “doenças da produtividade”, “profissão”, “prontuário” e “qualidade registro”.
Resultados: Dados da Associação Internacional de Segurança Social revelam que 4% do PIB mundial é gasto com indenizações, cuidados de saúde, reabilitação e invalidez relacionados a doenças laborais. De acordo com a Organização Mundial do Trabalho acontecem cerca de 270 milhões de acidentes não fatais, 160 milhões de novos casos de doenças profissionais e 2,34 milhões de mortes por ano. No Brasil, o SUS atendeu 3 milhões de doenças ocupacionais entre 2007 e 2022. Em relação à qualidade dos prontuários, os principais pontos que prejudicam sua qualidade são a falta de tempo, treinamento, desmotivação da equipe e não sistematização das informações. Não foram encontrados pesquisas sobre o questionamento da ocupação na APS, entretanto, em pesquisa com pacientes oncológicos, relacionou-se a falta da informação ao fato dela não interferir no desfecho e tratamento dos cânceres e ao fato dos profissionais não conhecerem os riscos que os usuários estão expostos em cada ofício, o que faz essa informação se tornar irrelevante. O último argumento é uma hipótese que pode ser aplicada ao cenário da APS.
Conclusão ou hipóteses: As doenças ocupacionais geram gastos significativos para o doente, SUS e previdência. Além do fato de os prontuários médicos terem sua qualidade comprometida por outros fatores, essa pauta é menosprezada nas consultas devido ao fato dos médicos não conhecerem o encargo das profissões e não saberem o que fazer com essa informação. É de suma importância que os profissionais tenham um conhecimento mínimo sobre as profissões mais prevalentes em sua região e que essa questão seja abordada nas consultas, tanto para ações de prevenção de acidente, quanto para tratar as doenças ocupacionais.