A violência contra mulher é um complexo determinante social de saúde, que requer ações em rede para o seu enfrentamento. Neste contexto, o “Programa Para Elas, Por Elas, Por Eles, Por Nós” apresenta-se como ponto articulador desta rede. Este trabalho objetiva registrar o histórico de tal programa, desenvolvido há 13 anos na faculdade de medicina de uma universidade pública. A iniciativa - que associa ensino, pesquisa, extensão e intervenção - iniciou suas atividades em 2011, com incentivo do Ministério da Saúde. Idealizadas pela professora E. M., as atividades continuam a ser construídas por várias mãos, tal como a colcha de retalhos, símbolo do programa. À época da inauguração, foram realizados pelo país diversos seminários e oficinas para elucidação e organização das redes de enfrentamento à violência contra mulher. Houve também a capacitação específica para dez municípios eleitos e a disponibilidade de um curso à distância de alcance nacional. A estabilidade do programa - em grande monta atribuível ao vínculo com o mestrado profissional, às parcerias intersetoriais e à coerência metodológica entre as diversas atividades - permitiram a sua continuidade mesmo após finalizado o financiamento federal. Neste sentido, em 2016, foi inaugurado o Ambulatório Para Elas E. M., em um complexo hospitalar universitário, com o objetivo de fortalecer a rede de prevenção e assistência às vítimas de violência. O serviço é estruturado fundamentalmente em uma roda, norteada pela teoria da ação comunicativa de Habermas. Ademais, são ofertados atendimentos individuais interdisciplinares com médicas de família, advogadas, psicólogas, arteterapeutas, dentre outros profissionais e estudantes. Durante a pandemia de COVID-19, adotou-se a modalidade remota. Atualmente, o ambulatório encontra-se no formato presencial. Como pilares do ambulatório, são organizadas oficinas permanentes (territorializadas na capital mineira) para mulheres vulneráveis nas quais, além das rodas de conversas mediadas, são ofertados cursos profissionalizantes potencialmente geradores de renda. Além disso, periodicamente, o programa organiza bazares, dentre os quais o “Bazar de Bijus”, momento no qual são comercializadas bijuterias doadas e artesanatos das participantes das oficinas. Quanto a outras ações intersetoriais, em 2021 e em 2024, foram realizadas - em parceria com a Secretaria de Segurança e Prevenção de Belo Horizonte - formações sobre violência doméstica para Guarda Civil Municipal. Ao longo de mais de uma década de atuação, o programa tem resultado em capacitação de profissionais de diversas áreas; assistência transdisciplinar à saúde; promoção da autonomia, do empoderamento e de geração de renda para mulheres vulneráveis e notável produção técnico-científica.