INTRODUÇÃO: A educação médica atual enfrenta desafios importantes para extrapolar os ambientes acadêmicos e se inserir na comunidade, garantindo a saúde como direito universal. Diante desse desafio, estudantes de uma instituição privada de ensino superior de Salvador participaram do estágio em Medicina de Família e Comunidade na zona rural do sertão baiano. OBJETIVO: Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência vivenciada por três estudantes de Medicina ao realizarem estágio optativo do internato médico numa Unidade de Saúde da Família. METODOLOGIA: As atividades foram realizadas na USF localizada no povoado de Santo Antônio, zona rural de Nova Fátima, entre o período de março a maio de 2024. O serviço de atuação conta com 1500 usuários adscritos, para os quais foram prestados atendimentos agendados e acolhimento às demandas espontâneas, visitas domiciliares, além de atividades de educação em saúde como salas de espera e debates temáticos. RESULTADOS: A vivência do estágio se inicia muito antes dos atendimentos à população. Os caminhos percorridos para chegar à unidade revelam a vegetação presente e as marcas deixadas pelo clima árido que a cerca. O percurso da população, em sua maioria, é feito a pé ou de motocicletas. Crianças brincam descalças em íntimo contato com a terra e os animais. Homens e mulheres cuidam, plantam e colhem seus sustentos. Prestar atenção no movimento da população se torna essencial para criarmos vínculos com os pacientes e compreender como essa dinâmica interfere no processo de saúde e doença da comunidade. Muitos são os exemplos de homens com quadros de lombalgia decorrentes do impacto das motocicletas pilotadas. Inúmeras são as mulheres com problemas articulares devido aos movimentos repetitivos de arar o solo. Crianças com dermatites provenientes do contato com os animais. Comorbidades como Diabetes e Hipertensão refratárias às medicações. E não menos importante, o vazio de uma vida preenchida somente pelo trabalho, que não supre as necessidades básicas, desemboca em ansiedade, depressão e insônia, amenizadas pelos psicofármacos, mas que não apagam dores sentidas diariamente. CONCLUSÃO: No meio de árvores enfeitadas por flores amarelas, mandacarus, sisais, animais buscando sobreviver tal qual os homens e mulheres, que riem, choram, comem maxixe e forrozeiam, é que se encontra uma das experiências mais ricas que vivemos na nossa formação. Participar do estágio nos possibilitou um engrandecimento profissional e como cidadãos. Saímos dessa experiência com o olhar de que a atuação médica deve estar implicada com a dignidade humana e a transformação social.