INTRODUÇÃO: A Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica não transmissível, caracterizada por níveis glicêmicos sustentadamente elevados, por deficiência na produção ou ação da insulina. Estima-se que 436 milhões (9,3%) de adultos no mundo são portadores desse distúrbio, revelando sua relevância epidemiológica mundial. Na DM, destacam-se complicações vasculares, como retinopatia, nefropatia e doença coronariana, geradoras de prejuízos psicossociais aos pacientes e gastos ao sistema público. Diante desses potenciais agravos, as diretrizes de cuidado preconizam uma assistência integral promovida por uma equipe multiprofissional, composta, por exemplo, pela enfermagem, nutrição e medicina de família e comunidade. Embora essa coordenação multiprofissional seja ressaltada nas políticas nacionais, obstáculos para a efetivação dessa recomendação compõem a realidade do município em questão. OBJETIVO: Descrever a integração multidisciplinar no cuidado longitudinal de pessoas com DM atendidas pela atenção primária em um município mineiro. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo observacional, em coorte, com coleta retrospectiva de dados do ano de 2022, tendo como população de interesse indivíduos a partir de 18 anos com DM atendidas pela atenção primária em um município da microrregião de saúde. A coleta foi realizada pela análise de prontuários, em 10 unidades de saúde, e observou-se parâmetros de acompanhamento longitudinal, como número de encaminhamentos e especialidades encaminhadas. Ao todo, foram selecionados por amostragem aleatória 190 prontuários para coleta de dados, posteriormente examinados em software estatístico. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (CAAE 63542122.1.0000.5151). RESULTADOS: Em 2022, constatou-se que 50 pacientes não realizaram consultas. Assim, dos 140 pacientes que receberam atendimento, 24 foram referenciados, sendo que 8 receberam 2 encaminhamentos, totalizando 32 encaminhamentos analisados. Dentre eles, observou-se que a endocrinologia é a especialidade médica mais referenciada (10 encaminhamentos), seguida da oftalmologia (9), cardiologia (4) e nefrologia (1). Quanto à abordagem multiprofissional, notou-se que 5 encaminhamentos foram para nutricionistas, não havendo menções a outras áreas, bem como não foram encontrados registros de contrarreferência. CONCLUSÕES: A incompletude dos dados no preenchimento dos prontuários, a escassez de referências e contrarreferências e a carência de menções a acompanhamentos de variados profissionais da área da saúde revelam a precariedade do cuidado multiprofissional no contexto local. Assim, a pesquisa expõe essa falha assistencial, possibilitando um futuro enfoque na identificação e otimização das questões que dificultem a aproximação entre as políticas nacionais e a prática local em se tratando da proteção à saúde dos pacientes portadores de DM.