Este trabalho trata sobre a experiência de dois médicos residentes em Medicina de Família e Comunidade no atendimento à população em processo de afirmação de gênero no contexto da atenção primária do Rio de Janeiro.
Diante do exposto, o objetivo foi narrar, por meio de um relato de experiência do acompanhamento da população trans, a vivência de dois médicos em dois cenários diferentes - Rocinha e Gávea, durante os dois anos de atuação na atenção primária à saúde. Com isso, buscou-se se aprofundar na problemática da construção sócio-cultural-histórica de gênero e como ela é apropriada dentro da medicina que ambos estavam inseridos.
Adotou-se neste trabalho uma metodologia qualitativa e exploratória, a partir da soma dos diários de campo das consultas realizadas pelos autores da pesquisa com os pacientes trans que frequentaram as unidades de saúde durante o ano de 2021, para a construção de um relato de experiência. A partir disso, iniciou-se um debate dentro da equipe técnica de cada local de trabalho, o que envolveu não apenas os autores principais, mas também colegas das respectivas equipes, o que foi incluído na descrição da experiência.
Por fim, o estudo ajudou a elucidar que as identidades de ge?neros são mu?ltiplas e indefinidas, e que isso na?o torna o debate uma abstrac?a?o ou algo ino?cuo. Uma sigla, LGBTTTQQIIAACPPFF2K+, que nunca acaba ou que sempre aumenta na?o torna o debate distante ou desinteressante por ser acusado de ser extenso demais. Assim, como as outras cie?ncias continuam se movendo no tempo, os estudos de ge?nero e sexualidade tambe?m o fazem e se legitimam independente da sociedade conservadora acompanha?-lo ou na?o, ja? que tal entendimento significa a compreensa?o daquilo que e? a humanidade em si mesma. E nós, como médicos de família e comunidade, temos a responsabilidade social de trazer essas pessoas à visibilidade e cuidar para que os determinantes sociais não estigmatizem e afastem ainda mais essas pessoas do cuidado à saúde.