A violência contra mulher - especialmente aquela perpetrada no ambiente doméstico - requer ações intersetoriais para seu enfrentamento, com destaque para as parcerias entre a saúde e a segurança pública. Neste sentido, ressalta-se o papel articulador da Guarda Civil Municipal enquanto instituição de segurança preventiva com atuações focadas na defesa de direitos e na proteção preventiva. Este trabalho objetiva registrar a experiência de formação em violência doméstica para agentes da Guarda Civil Municipal, promovida por meio de uma parceria entre uma faculdade pública de medicina e a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção. O curso, de carga horária de 60 horas, ocorrido entre os meses de outubro de 2023 e março de 2024, explorou as interfaces entre saúde (inclusive, do trabalhador), violência, família e gênero. A formação foi realizada integralmente na modalidade presencial, por meio de encontros semanais, com quatro turmas de até 25 alunos. Foram utilizadas diferentes abordagens metodológicas, a saber, palestras, rodas de conversa, aulas expositivas dialogadas e Problem Based Learning e técnica de Role-Play. Foram ministradas aulas sobre direitos humanos, sobre o histórico do arcabouço legal da violência de gênero no país e sobre a rede de enfrentamento local. Ainda, foram apresentadas ferramentas úteis como aquelas utilizadas na abordagem familiar (genograma e ecomapa), na comunicação não-violenta, e na mediação de conflitos. O tema de planejamento estratégico foi amplamente discutido e trabalhado ao longo do curso. Situações específicas como as de famílias incestuosas, de violência nas escolas e abordagem de urgências em saúde mental também foram amplamente debatidas. A perspectiva dos agressores também foi analisada por meio da reflexão sobre papeis de gênero e das formas de masculinidades. Cerca de cem cursistas concluíram com sucesso os objetivos da formação e apresentaram planos de ação, os quais objetivaram melhorar a comunicação interna institucional sobre violência de gênero e ampliar a conscientização sobre violência e sobre a rede de enfrentamento nas escolas e centros de saúde de locais mais vulneráveis. Diante do exposto, destaca-se a importância do trabalho intersetorial no enfrentamento e na prevenção da violência contra a mulher. Ainda salienta-se como a formação oferecida aos guardas cursistas foi eficaz neste processo bem como na promoção de reflexões e propostas de melhorias na saúde do trabalhador.